Tamim Ansary (2020). A Invenção do Passado. Amadora: Vogais.
A história humana, vista como um imparável fluxo entre civilizações e geografias. Tamim Ansary olha para a história global, dos seus primórdios aos dias de hoje, e filtra-a de acordo com uma perspetiva informacional, ou seja, de que a história não depende das façanhas de homens importantes, ou das decisões, mas sim de um movimento de fluxo de ideias entre blocos civilizacionais, que se vão influenciando mesmo que não tenham relação direta entre si, porque as evoluções e convulsões internas vão sempre alastrar para as fímbrias, onde os mundos se tocam, e com isso repercutir-se em cadeia cíclica.
Ansary divide as grandes civilizações humanas em três: o mundo chinês, que apesar das convulsões da sua história é uma unidade geográfica e cultural contínua há milénios; o mundo médio, desde o crescente fértil ao islamismo contemporâneo; e o mundo ocidental, que tirando o período romano sempre foi relativamente inferior face aos mundos orientais, mas que com a filosofia e a tecnologia, conseguiu impor as suas ambições sobre o planeta. A história global, para este autor, é feita de interações entre estes mundos, apoiados essencialmente numa ideia de narrativa geradora de identidade. Para Ansary, mais do que a capacidade política, militar ou económica, é a visão que um grupo humano tem sobre si mesmo, aquilo a que chama a sua narrativa, o que define as civilizações.
De origem afegã, Ansary traz-nos uma refrescante perspetiva não-ocidental sobre a história. Por outro lado, na sua ambição de olhar para toda a história humana como um contínuo de fluxos de informação interrelacionados, dá-nos um enorme panorama, rico de ideias, mas necessariamente sem as detalhar. Não deixa de ser um livro fascinante, daqueles que nos leva a repensar o que conhecemos, e a olhar de forma diferente para as nossas raízes históricas.