J.M. DeMatteis, et al (2012). I... Vampire!. Nova Iorque: DC Comics.
Este curioso personagem da DC é mantido vivo enquanto elemento secundário dos títulos da editora mais virados para o sobrenatural, como Justice League Dark ou as várias iterações de Constantine. O curioso é descobrir que, na sua aparição original nos anos 80, o personagem foi planeado como de vida curta, criado por J.M DeMatteis e Tom Sutton para a House of Mystery.
É esse arco original que este livro nos traz. DeMatteis e Sutton conceberam Andrew Bennett como um anti-herói - um vampiro atípico, consciente do mal, e que se dedica a combater uma organização secreta de vampiros que procura dominar o mundo. O toque de melancolia é dado pela rainha dos vampiros, a mulher que Bennett sempre amou, e quis transformar em vampira para garantir a imortalidade do seu amor. Mas nem todos têm a fibra moral de Bennett para se manterem acima dos impulsos vampíricos, e a mulher de Bennett é ao mesmo tempo um ideal perdido e uma inimiga formidável.
A saga de I... Vampire! conta-se em episódios que se vão alongando à medida que a série ganhou fãs. O tema é sempre o mesmo. Bennett e um par de aliados, uma jovem destemida cujo passado tem uma relação com o vampiro, e um velho russo que procura a sua mãe, transformada em vampira e ela própria uma das mais poderosas. Os conflitos com outros vampiros são constantes, e a história evolui de formas bizarras, envolvendo experiências genéticas, viagens no tempo, ou tecnologia soviética para manter imortais os membros do politburo com toques de vampirismo (notem que este comic foi originalmente publicado nos anos 80). Termina com a morte de Bennett após tomar a fórmula soviética, que lhe restaura parcialmente a humanidade com a mortalidade incluída, e também a morte da rainha dos vampiros, às mãos da jovem que ajuda Bennett, ela própria transformada num novo tipo de vampiro.
Este I... Vampire! original é bizarro e surreal, com os argumentistas a experimentar todas as tropes do sobrenatural que se lembraram para meter nas histórias. Experiências genéticas que transformam humanos em criaturas animalescas para lhes ser retirado o sangue, tóxico para vampiros? Tem. Múmias vivas? Arranja-se. Viagens aos tempos de Jack o Estripador? Não poderia faltar. Mergulhos na era isabelina? Claro, e com os vampiros vindos do futuro a cruzar-se com os seus inocentes eus do passado. Campos de pesquisa sobrenatural secreta soviética? É isso que leva ao final. Zombies nazis? E porque não? Vampiras sedutoras? Bem, histórias sobre vampiros têm de ter vamps. E ainda mete supremacistas brancos nas suas túnicas KKK, ou hippies em Woodstock. Há poucas bizarrias em que esta série não toque, naquele tom descomplexado dos comics dos anos 80.
DeMatteis é conhecido pelas suas histórias mais esotéricas, mas a continuidade da série foi entregue a Bruce Jones e outros, e é aí que ela se torna ainda mais weird. Bennett inverte o mito de Dracula com um vampiro nostálgico pelo amor que perdeu, capaz de ceder aos seus impulsos de morder pescoços, e inimigo mortal dos vampiros tradicionalmente predadores dos humanos. Um divertido blast from the past, que enquadra um personagem sombrio que a DC vai mantendo nas periferias das suas séries regulares.