Moebius (2016). The World of Edena. Milwaukie; Dark Horse Comics.
Um clássico, que dispensa apresentações. Moebius marcou de forma indelével a ficção científica, com o seu estilo de realismo surreal e as suas histórias de uma FC mais cósmica e psicadélica. Edena é talvez um dos melhores exemplos disso. Uma quase-saga que evoluiu um pouco ao acaso, construindo-se ao sabor da inspiração do autor. Nota-se na forma como se desenrola, entre uma FC mais tradicional a experiências estéticas e ao culminar num episódio de puro surrealismo onírico. É também um perfeito ícone do estilo gráfico e temático da FC criada entre os anos 80 e 90 do século XX.
Quando Stel e o seu/sua (terão de ler a série para perceber) co-tripulante Atan se despenham num curioso planeta de superfície totalmente lisa, depressa se veem envolvidos numa tremenda aventura. O planeta alberga uma estranha força que, ao longo de séculos, capturou tripulantes de naves de todas as espécies da galáxia para os transportar ao lendário planeta Edena. Apenas precisa de Stel para fechar o ciclo, e levar para o planeta aqueles que, sem o saber, aguardavam à séculos pela viagem. Edena é de facto um novo éden, e os personagens caem nele como bebés no mundo. Vindos de uma civilização técnica, não estão verdadeiramente preparados para sobreviver num mundo natural, onde até o seu verdadeiro género se começa a revelar. Peças-chave do puzzle de Edena, Stel e Atan terão como destino a eterna busca um do outro, enquanto lutam contra as forças negativas de um mundo onde sonho e realidade têm fronteiras ténues.
Warren Ellis, Declan Shalvey (2014). Moon Knight Vol. 1: From the Dead. Nova Iorque: Marvel Comics.
Seis brilhantes números. Foi essa a encomenda que a Marvel fez a Warren Ellis, correntemente sob ataque da cancel culture, para refrescar Moon Knight. Um daqueles personagens de terceira linha da editora, uma espécie de clone inverso de Batman, útil para aparecer em rodapé nas aventuras das principais personagens, e que nunca teve séries memoráveis. Ellis mudou isso, e só precisou de seis números. É a capacidade narrativa de Ellis, sintética e cinematográfica, que marca a renovação. Declan Shalvey acompanha muito bem no grafismo. Ellis não perde tempo com complexas backstories, embora não deixe de fazer a sua construção do mito do personagem em detalhes narrativos. São seis aventuras fechadas, sem encadeamento, em pura ação explosiva. É difícil escolher qual a melhor, mas a mais surpreendente é aquela em que Ellis aplica o ritmo de gameplay de um jogo de luta/plataformas a uma história em que o Cavaleiro invade um prédio para resgatar uma adolescente raptada. Após Ellis, a série continuou com Brian Wood e Cullen Bunn, mas depressa perdeu o interesse.
Silvia Vecchinni, Sualzo (2019). 21 Giorni Alla Fine del Mondo. Il Castoro.
Numa daquelas vilas que vive de ser estância turística mas não deixa de ter vida própria, uma jovem adolescente vai reencontrar um amigo de infância, que julgava perdido. Um reencontro feio de traumas do passado, uma vez que o desaparecimento do rapaz se deveu ao suicídio da sua mãe em circunstâncias misteriosas. Amizades, aquele primeiro amor adolescente, a vida tranquila do verão e as dores de crescimento estão em evidência nesta obra, que tem um grafismo muito interessante.