Juan Sasturain, Alberto Breccia (2020). Perramus: The City and Oblivion. Los Angeles: Fantagraphics.
Perfeitamente surreal, a roçar o patético, originalmente publicado entre os anos 70 e 80 do século XX. As aventuras de um homem sem memória, que acorda em Buenos Aires ao lado de uma bela mulher e de um casaco, cuja marca irá adoptar como nome. Um homem sem memória, que se vê envolvido em aventuras progressivamente rocambolescas, que cruzam os dois grandes mitos da américa latina: a violência das ditaduras que sustentam países que são de facto repúblicas das bananas, e Borges, essa voz maior da literatura. As aventuras bizarras são uma clara sátira de humor negro, aos tempos que os autores argentinos tiveram de suportar. Governos repressivos, desaparecimento de opositores, ditaduras militares, subserviência a interesses económicos. Já Borges, o seu fantasismo de erudição e imaginação, surge como o sublimar, o surreal e imaginário como o único caminho para enfrentar uma realidade tenebrosa. O surrealismo da obra é sublinhado pelo traço de um Breccia a apostar mais no expressionismo do que no realismo.
Ann Nocenti, David Aja (2020). The Seeds. Milwaukie: Dark Horse.
Uma excelente surpresa, para iniciar 2021. The Seeds é uma história de sanidade duvidosa, entre o futurismo próximo decadente, a implosão dos media no clickbait e fake news, catástrofes ambientais e... alienígenas. Uma jornalista, sempre pressionada pela sua editora para lhe dar notícias sensacionalistas, decide ir investigar uma zona onde aqueles que rejeitam a tecnologia se refugiam, e com isso depara-se com a história da sua vida: um caso de amor entre uma mulher humana e um alienígena. As coisas complicam-se ao perceber que o alienígena faz parte de uma equipa que salta entre planetas em vias de extinção, recolhendo sementes de vida para fazer lucro. A Terra foi o único onde encontraram formas de vida mais evoluídas do que bactérias, mas nem por isso mudam o seu modus operandi. Entretanto, os desastres ambientais sucedem-se, e um milionário procura criar abelhas robóticas para substiuir as reais, quase extintas, mas com resultados catastróficos. Entretanto, outro bilionário procura ir a outros locais do sistema solar, mas um erro de navegação leva-o a despenhar-se em Europa, onde graças a esse acidente se descobrem indícios de vida. Numa sociedade em desagregação, os media são o escapismo de entretenimento, e o jornalismo clickbait impera. Uma sátira negra ao nosso mundo contemporâneo, que extrapola tendências que nos assolam o dia a dia, para um futuro próximo catastrófico.
Kurt Busiek, John Leon (2020). Batman: Creature of the Night. Nova Iorque: DC Comics.
Uma curiosa variante do mito de Batman, num registo entre o realismo fantástico, o sobrenatural e o comic de super-heróis. Quando Bruce, o jovem herdeiro de uma fortuna de Boston perde os pais num crime violento, é o seu fascínio pelo personagem de Batman que o ajuda. Torna-se tão obcecado que, aparentemente, é capaz de manifestar um Batman na nossa realidade. Uma entidade talvez sobrenatural, que devasta o mundo do crime enquanto o jovem cresce e vai tomando conta dos destinos da sua empresa. Mas algo não está certo, e Bruce acaba por perceber que tudo o que acreditou ser uma luta contra o mal, na verdade foi uma estranha manipulação. Uma aventura bizarra, focada no cerne do mito do personagem,