terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Comics: Solo; Monster War; The Omega Men

 


(2013). Solo. Nova Iorque: DC Comics.

Para lá da linha de comics, que segue os estereótipos gráficos do género, a DC também se distingue pela sua aposta em banda desenhada gráfica e conceptualmente mais complexa, trazendo ao grande público autores cujos estilos são marcadamente artísticos. Fez isso de várias formas, desde os tempos da Vertigo, ou dado espaço à voz dos criadores (é o que a distingue das outras majors), ou incorporando-os em momentos especiais dos seus personagens icónicos. Em parte, parece ser o objetivo da corrente série Black Label.  Não deixando de ser aposta comercial, é também uma jogada de prestígio da parte da editora, e tem uma consequência pedagógica, com a exposição do leitor médio dos comics a estilos mais complexos.

Solo é um excelente exemplo da forma como a DC  cruza a ponte entre comic comercial e erudito, dando espaço a criadores do calibre de Chiarello, Allred, Chaykin, Aragonés, Pope ou Corben para criação de histórias que têm em comum ideias intrigantes e elevado calibre estético. Um espaço de liberdade, algumas das histórias mexem com os personagens DC, outras são totalmente independentes. As diferentes vozes e estilos são marcantes, como não poderia deixar de ser com esta lista de autores.

Christopher Golden, et al (2006). Monster War. Dynamite Entertainment.

Daqueles livros que promete mais do que realmente faz, embora não deixe de ser um  pouco divertido. Essencialmente é uma desculpa por parte da Dynamite para colocar num mesmo título algumas das suas personagens - Magdalena, Silver Blade e até Lara Croft juntam-se para combater um assomo do mal. Liderado pelo terrível Mr. Hyde, que acorda Drácula do seu sono e liberta o Monstro de Frankenstein dos gelos para levar a cabo um plano que visa bestializar a humanidade e abrir a porta a criaturas malévolas de outras dimensões. Pois, é um monster mash, previsível, bastante bem ilustrado, algo over the top, e cheio de personagens em poses sensuais (hey, é a Dynamite, é uma das suas especialidades). Apesar de até poder ser divertido, o ritmo algo atabalhoado não o torna uma leitura interessante. Vale mais pelo conceito.

Tom King, Barnaby Bagenda (2020). The Omega Men: The Deluxe Edition. Nova Iorque: DC Comics.

Quem são os Omega Men? Terroristas? Combatentes pela liberdade? Aspirantes a opressores? Heróis? Manipuladores? Com Tom King no argumento, um pouco disto tudo.  A DC revisita uma equipe de personagens muito secundários, que opera no distante sistema Vega. Um sistema planetário livre da influência de Lanternas Verdes, dominado pelo regente tecnocrático da Cidadela, um complexo orbital que assegura o seu poder controlando o fluxo comercial de uma substância  rara que só se encontra no sistema Vega, a única capaz de travar os desequilíbrios telúricos que destruíram Krypton. Claramente, é a substância mais desejada da galáxia, nenhuma civilização quer ter o destino dos kryptonianos. A sua extração, no entanto, é tremendamente destrutiva para os planetas. A Cidadela mantém a produção, e os lucros, explorando as divisões entre as diferentes espécies de Vega, estimulando a venalidade, a corrupção, ou a violência genocida. É contra esta ordem que os Omega Men combatem, mas os seus métodos não são muito melhores do que dos daqueles que tiranizam o sistema. Isso torna-se particularmente visível quando instrumentalizam um lanterna verde terrestre, enviado ao sistema para mediar um possível acordo de paz, mas que acabará por ser ver forçado a juntar-se aos insurgentes. 

As visões de Tom King raramente são binárias, e aqui é particularmente insidiosa, mostrando que os heróis libertadores podem ser tão criminosos quanto aqueles que combatem. Suspeito que há aqui um explorar das experiências militares de King no Iraque. Como sempre, o seu ritmo narrativo é implacável e impecável. A ilustração de Barnaby Bagenda é muito estilizada, contribuindo para sublinhar o exotismo destes personagens alienígenas da DC.