terça-feira, 24 de novembro de 2020

The Medusa Chronicles

 Alastair Reynolds, Stephen Baxter (2016). The Medusa Chronicles. Londres: Gollancz.

Um livro curioso. Baxter e Reynolds são dos melhores praticantes contemporâneos da arte da FC Space Opera. Nesta colaboração, cruzam a sua voz e talentos para uma homenagem a Arthur C. Clarke. De certa forma, este livro é uma enorme fan fiction. Mas como os fãs são autores de primeira linha, a qualidade da leitura é garantida. O ponto de partida é o conto clássico A Meeting With Medusa, onde Clarke explorou a ideia de vida na camada superior da atmosfera de Júpiter. A narrativa tem um sabor desconexo, os autores adaptam a sua linguagem narrativa própria ao estilo de Clarke, o que é um pouco desconcertante para quem conhece estes três escritores.

Baxter e Reynolds pegam nesse início e levam a coisa como só amantes da Space Opera poderiam levar.  A história do comandante Falcon, tornado um cyborg experimental após ser o único sobrevivente de um grave acidente, com a sua mecanização a ser a forma de poder explorar o ambiente de Júpiter, é expandida até atingir níveis cósmicos. Explorador da atmosfera jupiteriana, foi o descobridor das gigantescas criaturas inteligentes que vivem nessa atmosfera. Quase imortal, Falcon acompanha o desenvolvimento da civilização humana, da sua expansão pelo sistema solar. Também assiste, e de certa forma incentiva, ao dealbar da consciência artificial das máquinas inteligentes.  Estas máquinas inteligentes, que evoluem a partir dos robots criados pelos humanos, depressa criam a sua própria civilização e, vendo-se como uma evolução da humanidade, são implacáveis na expansão do seu domínio pelo sistema solar. O que dará origem a uma violenta e interminável guerra, que transforma a utopia futurista de uma civilização benévola multi-planetária, uma federação de planetas e colónias em luas e asteróides, num estado militarista obcecado com a aniquilação de um inimigo que, devido à sua natureza artificial, persegue objetivos incompreensíveis aos humanos.

Como ser que está entre o humano e máquina, e progressivamente neutro devido à longevidade, Falcon é muitas vezes usado como emissário entre as facções beligerantes. É graças a isso que o vasto panorama de uma space opera intra-solar se desvenda, e digo-vos. aguardam-vos o tipo de ideias que deixam os fãs a salivar. Terraformação marciana, colonização das atmosferas de Júpiter e Saturno, destruição de planetas por máquinas inteligentes, as expectáveis intrigas, e poderia continuar. O final é quase surreal, com Falcon e a primeira máquina inteligente de todas a caírem em direção ao centro de Júpiter. O que lá encontrarão irá mudar o destino das civilizações do sistema solar: uma forma de vida inteligente, capaz de manipular o próprio tecido do universo, e a revelação que existem formas de vida similares espalhadas pelo universo. Dá vontade de haver uma continuação destas crónicas.