quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Comics: The Last One; Proteus; Rome West

 

J.M. DeMatteis, Dan Sweetman (2009). The Last One. Nova Iorque: Boom! Studios.

Na cidade de Nova Iorque há uma casa que acolhe pessoas perdidas. São resgatadas por um ser, talvez homem, talvez mulher, que lhes sente o potencial e ajuda aqueles que estão a resvalar para o fundo. Um ser angélico, cansado de milénios a calcorrear o mundo, que sente a necessidade - não é missão nem obrigação, de ajudar pessoas que se estão a perder a atingir o seu potencial. Não todas. Tem de haver uma conexão (e fica-se com a sensação que este ser ajudou as mesmas almas em sucessivos milénios). E tem de haver vontade individual. Cada um é livre de traçar o seu destino, mesmo que este o leve ao abismo. J.M. DeMatteis no seu melhor, nos caminhos de um sobrenatural poético e espiritual, com uma história doce e ternurenta, mesmo quando é amarga.  O trabalho de ilustração de Dan Sweetman, mais próximo do plasticismo da pintura do que do espartilho gráfico dos comics, complementa muito bem o argumento.


Chris Claremont, John Byrne, David Stern (2020). X-Men Epic Collection Vol. 6: Proteus. Nova Iorque: Marvel Comics.

E se os leitores acharem estranho todo um volumoso livro sobre o arco narrativo Proteus que, na verdade, das histórias que colige só três estão diretamente relacionadas com o arco... isso é efeito Chris Claremont. Parte do sucesso do seu trabalho como argumentista seminal dos X-Men prende-se como a forma como encandeava arcos narrativos. Cada aventura dos personagens durava três ou quatro edições ds revista, e sempre num ritmo imparável. Mas ao longo das aventuras, Claremont ia deixando vinhetas soltas que preparavam o campo para histórias ainda por vir. Aliás, parte das histórias deste Proteus também pertencem ao arco narrativo Fénix.

Claremont era excelente em aventura imparável e nunca desiludia. Nestas histórias, os X-Men vão saltando de aventura em aventura, entre o murderworld de Arcade, oJapão (onde se começa a lançar as sementes de todas as futuras histórias asiáticas de Wolverine), a terra antártica esquecida de Ka-zar, ajudam civilizações de dimensões paralelas, enfrentam Magneto sob um vulcão e cruzam lutas no Canadá com uma Alpha Flight encarregue de recuperar Wolverine. Há linhas de continuidade, um aprofundar do caráter e camaradagem dos heróis inadaptados, e o recorrente conflito entre capacidades e confiança que ditou muito do trabalho de Claremont. Encerra com a luta contra Proteus, o único mutante que os X-Men se vêem forçados a matar. A amoralidade com que usa os seus perigosos poderes de distorção da realidade tornam este mutante uma ameaça demasiado grande, um que o esforço de redenção dos X-Men não consegue salvar. Ter poderes de distorção do real é uma excelente desculpa para vinhetas surreais, e os ilustradores não desiludem. 

Brian Wood, Justin Giampaoli, Andrea Mutti (2018). Rome West. Milwaukie: Dark Horse.

Um delicio e se. E se... uma armada romana tivesse sido apanhada pelas tempestades do atlântico e ido dar à costa da américa do norte? É essa a premissa de Rome West, uma divertida história alternativa onde náufragos fundam uma nova Roma a ocidente. Com a desvantagem dos números, os legionários optam pela mescla de culturas, e os valores e tecnologia romanos cruzam-se com a ancestralidade das tribos índias. O resto é história, alternativa, claro. Quando Colombo chega às américas, o novo e o velho mundo voltam a cruzar-se, mas com índios civilizados que falam latim e são capazes de rechaçar as tentativas de invasão espanhola. E assim evolui todo um novo mundo, feito de misturas de etnias, culturas e países. Os americanos têm como uma das premissas do seu nacionalismo o serem uma espécie de Nova Roma, e estas histórias levam essa premissa aos campos da história alternativa.