Claudio Chiaverotti, Roberto Recchioni, Andrea Fattori (2019). Morgan Lost & Dylan Dog #3: Il mietitore. Milão: Sergio Bonelli Editore.
Cruzar os universos ficcionais de Dylan Dog e Morgan Lost é inquietante. Ambas são personagens que se movem nas trevas, mas de formas diferentes. Dylan é positivo, os seus recontros tenebrosos dão-se com manifestações do sobrenatural, muitas vezes com toques oníricos. Lost é profundamente negativo, assombrado por demónios interiores e caçador de uma das pragas mais banais do seu universo, o serial killer. Mesmo os seus universos diferem. Dylan Dog está na Londres do nosso mundo, apesar das suas aventuras de carácter gótico e romântico. Morgan Lost passa-se numa América distopica, de estética dieselpunk e muito urbanizada. Um caçador de demónios e outras coisas obscuras cruzado com um caçador de assassinos assombrado por demónios interiores não é muito fácil. Mas entre as mentes tortuosas de Recchioni e Chiavertotti, algo saiu.
É Dylan que sai a perder desta ligação. Lost está em Londres, e a relação estreita que Dylan tem com a Morte é aqui explorada de forma inusitada. Enquanto esta pousa a sua foice, um Dylan atormentado pelo desaparecimento de uma das suas amadas pega no instrumento de ceifeira de vidas. Torna-se, durante uns tempos, a Morte, e vai retirando a vida àqueles a quem a sua hora chegou. O problema é que um mortal a assumir o papel da Morte irá desequilíbrar as forças do mundo, e toca a Morgan Lost travar Dylan, auxiliado por um Groucho que o leva à loucura com tanta piada parva, bem como por um inspector Bloch que, ele próprio, busca a morte. Com isto, as iconografias de Dylan Dog são visitadas por Lost (incluindo uma certa loja que só se torna visível quando é necessária), numa aventura que termina com Dylan Dog internado num asilo para doentes mentais.
Claudio Chiaverotti, Roberto Recchioni, Andrea Fattori (2019). Morgan Lost & Dylan Dog #4: Il ritorno dell'oscurità. Milão: Sergio Bonelli Editore.
Numa Londres sem Dylan Dog, é Morgan Lost que assume a tarefa de investigador de um sobrenatural em que não crê. O caso envolve uma jovem assombrada por um assassino fantasmagórico, num caso em que o psiquiatra da jovem a manipula mas, como é habitual nestas histórias, a assombração tem existência própria. Entretanto, o inspector Bloch, que descobre ter um gosto comum com a Morte - as partidas de xadrez, percebe através desta a forma de repor a normalidade. Mas as regras do inferno burocrático (é uma das mais divertidas tropes de Dylan Dog, o Inferno não é um local de dor e ranger de dentes, mas sim uma infinda repartição burocrática) são claras. Dylan só regressará à normalidade se Morgan Lost for morto. E terá de o ser por um dos inimigos de Dylan.