Esta semana, analisa-se a restruturação da DC Comics, com o fim de alguns títulos marcantes, o lançamento de Faithless em português e as improváveis aventuras de heróis de banda desenhada por terras portuguesas. Os males do PDF, uma inteligência artificial que automatiza a criação de efeitos visuais sonoros, e um projeto que utiliza GANs para criar retratos fotorealistas de imperadores romanos são os destaques na Tecnologia. Ainda se fala da perenidade dos exames, de um tesouro artístico esquecido em Lisboa, ou da experiêcia dinamarquesa de reabertura de escolas. Estes são os destaques, mas há mais a descobrir nas Capturas da semana.
Ficção Científica e Cultura Pop
Satan Is My Ally: Hey, como dizia o Shakespeare, as necessidades fazem strange bedfellows.
The Inimitable Shintaro Kago: O surrealismo de revirar as entranhas do grande mestre do ero-guro. Iconografias que não são para todos os estômagos.
Faithless, de Azzarello e Llovet: Se há um elemento comum aos comics americanos é o seu puritanismo (por estranho que pareça num género onde o corpo feminino é sempre representado de formas voluptuosas e reveladoras, sob desculpa de ser uniforme). O que torna séries que toquem no tema do erotismo (não confundir com pornografia) o seu quê de pedrada no charco. Faithless é uma delas, e vale bem a descoberta, agora que vai ser editada por cá.
Si Spurrier on the Cancellation Of John Constantine… and Heartbreak: Foi uma notícia que surpreendeu os fãs. A DC Comics vai ser restruturada pela empresa que comprou a Time Warner, como parte do esforço de redução de dívida. É um corte profundo, que afeta centenas de criadores, com o cancelamento de muitos títulos. O foco da DC passou a ser nos icónicos, aguentam-se Batman, Superman e pouco mais. Uma das séries canceladas é John Constantine Hellblazer, que é nada menos que brilhante e, IMHO, a melhor proposta da DC nestes tempos. O argumentista britânico Si Spurrier estava a fazer um trabalho espantoso, atualizando um dos personagens icónicos de terror da DC com histórias que cruzam o terror com a crítica política e social. No entanto, ser excelente não chega para a nova direção editorial da DC, que vai ser encabeçada por um executivo ligado aos e-sports (pois, é que tem tudo a ver com comics).
The Uninvited: Aventuras negras na Ficção Científica.
DIRECTORIO DE REVISTAS QUE PUBLICAN FICCIÓN ESPECULATIVA EN ESPAÑOL: Útil para escritores de fantástico portugueses que queiram experimentar publicar no espaço editorial castelhano. Mas também para leitores que queiram ampliar as suas fontes de leitura.
E se o Hellboy Passasse Férias no Algarve?: O Bandas Desenhadas faz um post verdadeiramente enciclopédico sobre heróis da BD que, nalgum momento, tiveram histórias que passaram por Portugal. Quão enciclopédico? Desencanta uma aventura do Capitão América dos anos 40 em que este passa por Lisboa disfarçado de matrona para fugir aos nazis. Há aqui pérolas, como Daredevil em Lisboa, ou a cidade ameaçada por monstros em New Mutants; um algarve romanceado e assombrado em Hellboy; e, claro, referência às aventuras de Dampyr por cá (editadas em português pela A Seita).
Jim Burns: 3... 2... 1... disparo!
Cinema Estranho: Vai uma playlist de filmes raros, bizarros, obscuros, de série B ou apenas estranhos? Obras disponíveis no YouTube.
O final de O Caminho do Oriente: É interessante saber que um fanzine está a reeditar trabalho de um autor clássico da BD portuguesa, Eduardo Teixeira Coelho. Infelizmente, é um fanzine raro, dificilmente o lerei.
The Stone Tape: Revisiting BBC's Obscure Classic Ghost Story: E agora tenho de ir partir à descoberta desta obscura história de fantasmas, que no entanto influenciou cineastas como Carpenter.
Ufo: Sim, mas não é um ovni qualquer, é um Haunebu.
Futurecon Speakers: Em setembro, online, vai decorrer uma convenção dedicada à ficção científica verdadeiramente internacional, com participantes que refletem a diversidade global do género (e não apenas a vertente comercial anglo-americana). A lista de speakers é ao mesmo tempo um convite a participar na futurecon, e uma lista de autores a descobrir.
House of Hammer vol. 1 no. 1, 1976: O vampirismo é metáfora vitoriana de sensualidade.
Gajas, Testosterona e Violência: O cronista do Bandas Desenhadas não poupa este clássico de Frank Miller, apontando-lhe o que tem de excelente - a estética que, na altura, foi uma pedrada no charco dos comics, mas também tudo o que tem de mau. O foco exclusivo em violência e mulheres despidas. Funcionou bem no primeiro volume, como variante mais forte do policial noir, mas depressa se esgotou. Diga-se que Miller foi dos artistas de BD mais interessantes dos anos 80 e 90, autor de obras como Ronin, uma das fases mais interessantes de Daredevil, 100 e Sin City, mas que mais qualidades perdeu ao envelhecer. Algumas das suas mais recentes obras são pouco mais do que ranzinzices xenófobas, resta o estilo gráfico que continua admirável.
"Berlin", a banda desenhada enquanto literatura: Jason Lutes é um dos autores que me fez apaixonar pela Banda Desenhada, ao pegar no seu intimista Jar of Fools. Berlin é um trabalho de fôlego, que ainda não me atrevi a ler, é daqueles que precisa de tempo para ser lido e digerido.
Blonde Bait: Capas exploitation.
Robot That Hated / Robert the Robot!: Comics, robots, terror e muito bom humor. Se bem que este blog dedicado ao terror nos comics pré-comics code raramente se mete com histórias mais ligadas à ficção científica.
Pierre Mion: Visões de sondas.
Tecnologia
AutoFoley, la inteligencia artificial que añade efectos de sonido a un vídeo según lo que aparezca en él: Adicionar "criador de efeitos sonoplásticos" à lista de profissões ameaçadas por inteligência artificial. Este algoritmo é capaz de analisar as cenas de um filme e gerar (a partir de bibliotecas de sons) o efeito sonoro mais adequado.
In a world where you have to social distance, how do you scrum?: Transformação digital, aquela ideia que era muito falada e discutida até que a covid nos obrigou a aplicá-la na prática. E que virá para ficar, a menos que as organizações queiram continuar a torrar dinheiro em grandes infraestruturas e os trabalhadores regressar aos prazeres dos transportes públicos apinhados e da hora de ponta. Claro que o teletrabalho não será tudo, mas no mundo pós-pandemia, muito do que obrigava a um escritório poderá ser feito fora dele, usando ferramentas de trabalho colaborativo. Que já existem, mas têm ainda de evoluir, num processo de reforço a partir da experiência de uso.
Researchers Say PDFs Are 'Unfit for Human Consumption': Sim, malta, já está na hora de fazer ao PDF o mesmo que foi feito ao Flash - acabar com uma tecnologia antiquada. Se lemos cada vez mais em ecrãs, precisamos de formatos que se ajustem aos ecrãs. E o PDF, pensado para manter de forma consistente o layout de uma página (ou seja, para não "desformatar"), não se ajusta à leitura digital. Isso é cada vez mais óbvio, e no entanto... as publicações académicas são em PDF (ah, e então quando sáo papers com duas colunas, é tão bom de as ler num tablet), edições oficiais em PDF, é o formado favorito de demasiados professores (tanto puxei orelhas aos meus colegas, durante os dias de ensino remoto de emergência, por usarem PDFs para alunos que em muitos casos só dispunham de telemóvel para aceder aos conteúdos da escola que alguns cortaram relações comigo) (a cereja em cima do bolo: boa parte dos conteúdos de produtos educativos como Escola Virtual são o PDF do manual disponibilizado online). Não que o PDF seja totalmente inútil - o não desformatar serve essencialmente como formato digital para publicação e impressão. Mas para leitura totalmente digital? Página html. ePub. Formatos que não nos obrigam a zoom constante e deslocação de texto para manter uma sequência de leitura.
Modernidade
How To Teach Schoolkids To Make A Festival-Ready Animated Film In 20 Hours: Os projetos educativos do cineasta de animação português Abi Feijó, em destaque no Cartoon Brew. Intrigante a abordagem pedagógica - mostra às crianças filmes feitos por outras crianças, para não as desencorajar ao verem o trabalho complexo da animação comercial e artística.
Tesouro escondido há 300 anos em Lisboa: Uma intrigante reportagem de inesperado urbex (urban exploration). Um daqueles edifícios na zona do Martim Moniz em que ninguém repara, hoje com serviços de uma junta de freguesia, foi um antigo colégio e tem na sua escadaria painéis de azulejaria barroca de Domingos Almeida. Suspeito que da próxima vez que passar por essa zona, irei atrever-me a explorar este edifício.