quinta-feira, 23 de julho de 2020

Comics: The Twelve; Batman '66 Meets Steed & Mrs. Peel


J. Michael Straczynski, Chris Weston  (2008) The Twelve, Volume 1. Nova Iorque: Marvel Comics.

De vez em quando, as editoras encomendam a equipes criativas pontuais ressurreições de personagens esquecidos, essencialmente propriedade intelectual que está a languescer nos seus arquivos. Em parte para os recuperar, e em parte para tentar despertar o interesse e incorporá-los nos alinhamentos contemporâneos. Raramente passam da edição especial, talvez porque sejam personagens que já tiveram o seu tempo, e mesmo nesse eram de segunda linha.

Em pleno evento civil war da Marvel, a escavação de um parque de estacionamento em Berlim descobre um segredo inusitado. Um grupo de heróis e homens de mistério, capturados pelos nazis durante a queda de Berlim, e colocados em animação suspensa para serem cobaias de cientistas que acabaram por não sobreviver às tropas soviéticas. Estes antigos heróis são recuperados pelo exército americano, que vê neles um recurso precioso. Nada como heróis patrióticos para ajudar nas querelas políticas.

O problema está na adaptação à nova realidade, décadas depois do seu desaparecimento. Há os que sucumbem à amargura de se saberem sós, com todos os seus familiares falecidos, ou rejeitados pelos filhos agora envelhecidos, que passaram uma vida a sentir-se abandonados. Um, homem que se afirmava do futuro, tem alguns problemas ao notar que o verdadeiro futuro não se adequa ao seu racismo e homofobia. Outro procura reviver o seu velho sonho de entrar no mundo do espetáculo, apenas para descobrir que tudo o que pensava ser divertido é apenas considerado mau gosto ofensivo.

A única personagem feminina é uma gótica avant la lettre, que se vê obrigada a continuar a desempenhar as tarefas sangrentas, o seu lado do pacto com forças das trevas que lhe conferiu os poderes para lutar pela justiça. Outros continuam as suas vinganças, ou são processados por mortes justiceiras com décadas de esquecimento. Um, antigo reporter e homem de mistério, lida com a sua inadequação ao novo mundo. Talvez o personagem mais interessante seja o que menos se mexe: um robot teleoperado, imóvel porque o elo com o seu criador não se renovou com a sua redescoberta, uma vez que este estava falecido há décadas.

Há toques de Watchmen nesta série, na forma como tenta recuperar personagens esquecidos com alguma visão crítica. Isso é sublinhado pela estética, com o traço detalhado e realista de Chris Weston. Mas Michael Straczinsky não é nenhum Alan Moore, e isso nota-se na forma direta e previsível com que segue a história. Tem alguns pontos de interesse, algumas colisões entre ideias obsoletas do passado e a sensibilidade contemporânea, mas pouco mais que isso.


Ian Edginton, Matthew Smith (2017). Batman '66 Meets Steed & Mrs. Peel. Nova Iorque: DC Comics.

Uma vénia à iconografia retro da série televisiva clássica. Ian Edginton dials the britishness to eleven neste cruzamento com Steed and Mrs. Peel, outra série clássica de aventura. O enredo é deliciosamente silly, envolvendo roubo de diamantes que irão criar um cérebro cibernético para o criador de autómatos britânicos, com planos detalhados pela sua filha. Esta envolve inimigos dos heróis, mas, claro, será derrotada. E descobrirá a verdade sobre si própria. Afinal, o inventor dos autómatos nunca teve uma filha, mas desenvolveu protótipos de androides avançados. Pura diversão, a emular os tiques das séries clássicas.