quinta-feira, 18 de junho de 2020

Nas Montanhas da Loucura


H.P. Lovecraft (2010). Nas Montanhas da Loucura. Lisboa: Saída de Emergência

É sempre bom regressar a este texto seminal de Lovecraft, cruzamento quase perfeito da estética pulp com ficção científica e o tipo de terror que viria a ser chamado de lovecraftiano. O livro segue o clássico estilismo de relato de expedição, cujos membros descobriram algo de inominável, algo tão horrendo ou com a capacidade de de tal maneira abalar o mundo que o melhor foi manter o segredo. O melhor deste livro, para mim, sempre foi o mergulho nas ruínas de uma cidade abandonada há milhões de anos, os vestígios que indiciam civilizações esquecidas, criaturas que nos fariam gritar de horror.

Os mythos levam aqui uma forte componente de ficção científica, com o autor a urdir uma história de colonização espacial que se teria passado antes do homem ser, sequer, uma possibilidade. A claustrofobia do horror nos territórios desconhecidos da Antártida faz um enorme contraste com os mistérios cujo véu é levantado, mas nunca totalmente revelados, apesar deste livro ser profuso em descrições e explicações. Lovecraft é um autor que não é para todos os gostos, entre a sua prosa complicada, as suas monomanias e tendências que hoje chocam os que apenas vêem a literatura sob prismas políticos ou sociais. De certa forma, com o seu lado fortemente descritivo e forte componente de aventura, At The Mountains of Madness é talvez das suas obras mais acessíveis. Ao relê-la, senti as visões dos gelos antárticos e arquiteturas que desafiam a sanidade tão fascinantes hoje, como aquando da primeira leitura, há longos anos atrás.