terça-feira, 31 de dezembro de 2019

The Forever War: Forever Free


Joe Haldeman, Marvano (2018). The Forever War: Forever Free. Londres: Titan Books.

Quando Joe Haldeman sublimou as suas experiências como veterano do Vietname em Forever War, criou um dos livros clássicos de FC do século XX. Uma obra sobre o absurdo da guerra, sobre a incompreensão entre culturas, e os limites relativísticos. A guerra trava-se porque o primeiro contacto entre terrestres e uma civilização alienígena é mal interpretado. E combate-se ao longo de séculos, as unidades militares demoram tempo a chegar aos seus alvos, o que confere aos soldados sobreviventes uma espécie de imortalidade. Regressar de uma missão implica que décadas, ou mais que isso, passem na Terra.

É aqui que Forever Free se foca. Os soldados sobreviventes têm, cortesia da relatividade, idades quase milenares. O tempo passou, as sociedades evoluíram, o impensável acontece: uma paz, quando a evolução das civilizações acaba por ditar a sua aproximação. Os velhos soldados são agora um múltiplo anacronismo. Indivíduos numa sociedade de mente enxame, fósseis vivos de uma antiga cultura que é vaga memória nos arquivos, heterossexuais numa cultura de reprodução pós-sexual. Exilados num planeta distante, a sua inadaptação é cada vez mais notória, e decidem usar as peculiaridades da física para viajar pelo espaço, e com isso fazer com que mais umas centenas de anos passem. Esperam perceber até onde irá evoluir a sociedade.

A meio da viagem, são surpreendidos por o que aparenta ser uma violação das leis da física. E, também, pela extinção aparente de terrestre e alienígenas. Com isso, descobrem uma espécie poderosa, que sempre coexistiu com outras vidas inteligentes no universo, e que manipulou a humanidade a entrar em guerra como experiência para ver até onde iria a sua evolução.

O final algo metafísico trai uma nova metáfora, a da adaptação do ex-soldado à vida civil. A versão para banda desenhada conta, como sempre, com o traço rigoroso de Marvano, que consegue ser ao  mesmo tempo futurista e classicista. Infelizmente, esta edição sofre as agruras de ser uma versão comic de um álbum francófono. Diferentes formatos de prancha, e o traço de Marvano sai a perder nesta conversão.