quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Dylan Dog, Il nero della paura: Il bianco e il nero; Gnut e altri racconti; Spettri e un altro racconto.


Il nero della paura n. 1: Il bianco e il nero

Três histórias curtas do Old Boy, que têm em comum o traço expressivo de Corrado Roi, um ilustrador que dissolve a linha em manchas de cor, o que confere uma ambiência especialmente negra às histórias de terror que ilustra.

Il bianco e il nero: Nesta história bem estruturada, como é habitual nos argumentos de Paola Barbato, Dylan sente-se a enlouquecer. Parece estar a ver o mundo progressivamente negro. Começa por pontos aqui e ali, e pouco tempo depois vê-se mergulhado no negrume. Não há causas fisiológicas para o delírio, o culpado é um dos inimigos sobrenaturais de Dylan, uma criatura que vive nas sombras e precisa da sua ajuda para convencer o filho a seguir-lhe as passadas. Como? Bastará a presença de Dylan, que é o grande pesadelo dos monstros do oculto. Corrado Roi ilustra, num estilo que sublinha a negritude de uma história em que o bom humor se sobrepõe ao terror.

La “Cosa”: Um homem desesperado consulta Dylan, pedindo-lhe que o mate e elimine o monstro que há dentro de si. Dylan obviamente não acede ao pedido, mas vê-se obrigado a colocá-lo inconsciente… e aí descobrirá que, realmente, um monstro reside dentro do homem adormecido. Argumento em estilo clássico de Sclavi.

La Cantina: Uma curiosa homenagem ao conto The Outsider de Lovecraft (e Sclavi não poupa nas referências iconográficas à obra do autor de Providence). Uma criança apaixonada por histórias de terror tem um medo tremendo de descer à cave da casa onde vive. Pressente que num esconso no interior da cave reside um terrível mal. Forçado a vencer o medo, desce à cave e tenta abrir o esconso, apenas para ser baleado por um assustado Dylan Dog, que trava ali um temível monstro que sai de dentro de uma cave escura. Do seu ponto de vista, o rapaz era o monstro, vindo de um mundo invertido.


Il nero della paura n. 2: Gnut e altri racconti

Quatro contos curtos, pérolas escritas por Tiziano Sclavi no seu estilo de realismo fantástico. É o que atrai em Dylan Dog, o que o torna mais do que um banal caça-fantasmas, o absurdismo, surrealismo e onirismo com que Sclavi sempre abordou a sua criação.

Gnut: Os mundos das lendas e do real cruzam-se nos sonhos, nesta intrigante pérola narrativa onde Tiziano Sclavi traz fadas e ogres ao mundo de Dylan Dog. Uma história profundamente onírica.

La bambina: Dylan tenta ajudar uma criança isolada numa casa, para se deparar com o terror visceral de crianças vítimas de violência. Nesta história subtil, os fantasmas das vítimas inocentes atraem Dylan Dog.

La piccola biblioteca di Babele: Talvez uma das mais perfeitas histórias curtas do Old Boy, uma bem humorada homenagem a Borges.

UFO: Um dos paradoxos de Dylan Dog é que, apesar dos seus constantes recontros com o sobrenatural, mantém-se um céptico. E mesmo que um ovni lhe paire em cima da cabeça, mantém-se céptico.


Il nero della paura n. 3: Spettri e un altro racconto

As diferenças entre Sclavi e outros argumentistas estão bem patentes nesta edição. A primeira história é onirismo puro, horror clássico, que não ficaria a destoar num compêndio de obras de M.R. James. A segunda não foi escrita por Sclavi. Claudio Chiaverotti assina uma história linear, que apesar de bem montada, empalidece ao lado do onirismo de Sclavi.

Spettri: Dylan cruza-se com um fotógrafo especializado em iconografia de terror. Um fotógrafo que passa a vida a criar cenários com fantasmas, zombies e gore, que sem o saber ele próprio também é um espectro, falecido há muito. O que o mantém, a ele e a outros espectros que retrata nas suas fantasmagorias, é a memória da imagem.

Beffa alla morte: Num hospital, uma mulher está às portas da morte. Numa cidade deserta, Dylan é compelido a procurar um livro de destinos para salvar a mulher. Por um acaso, os destinos trocam-se, e Dylan vê-se na cama do hospital, com a Morte ao pé. Mas a Morte tem sentido de humor, e não se importa que lhe troquem as voltas.