Greg Pak, Carmine DiGiandomenico (2009). X-Men Magneto: Testament. Nova Iorque: Marvel Comics.
Magneto foi evoluindo ao longo das narrativas para se tornar uma personagem mais complexa do que o habitual vilão dos Comics. Em parte, pelo trabalho de Chris Claremont, que soube explorar muito bem os X-men como espelho ideológico dos sentimentos sociais de injustiça. Criar a origem deste personagem como um sobrevivente do Holocausto foi um golpe de génio. Torna compreensível a sua eterna inimizade para com a humanidade. Ter sentido na pele o pior que os humanos podem fazer ao seu semelhante, não tem quaisquer ilusões sobre bonomias humanistas. Não é um vilão que lute pela supremacia. Sabe que a sua sobrevivência depende da extinção dos seus inimigos.
Se pegarem neste livro à espera de mais uma aventura onde mutantes superpoderosos vão lutar contra terríveis ameaças, desenganem-se. Não há aqui nenhuma manifestação de poderes, nenhum dos personagens habituais da série fazem aqui aparições. Exceto Magneto, claro, mas enquanto adolescente na Alemanha nazi, com os seus poderes magnéticos dormentes. Greg Pak explora a fundo a origem do personagem, numa narrativa que começa com os sinais de perigo das ideologias de supremacia racial perante judeus e outras minorias no regime Nazi, e termina nos fornos crematórios de Auschwitz. O jovem Magneto tudo faz para ajudar a família a sobreviver, mas não conseguirá salvá-los. A desumanidade da máquina exterminadora montada pelo regime é inexorável. A narrativa é um mergulho progressivo na história bem real do Holocausto. Pak, de forma assumida, foge aos estereótipos dos comics de super-heróis, usando esta personagem para contar uma história profundamente didática, que pretende que faça chegar aos leitores a importância de não esquecer o período mais negro da história mundial, dando-lhes o lado emocional para combater as vozes negacionistas. Entre o emotivo e o didático, este é um livro inesperado, que usa a linguagem dos comics de forma discreta mas assumidamente didática.
