quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Scary Stories To Tell In The Dark


Alvin Schwartz, Stephen Gammell (2019). Scary Stories To Tell In The Dark. Nova Iorque: Harper Collins.

Ainda não vi o filme, quando escrevo estas linhas. Apesar do envolvimento de Guillermo Del Toro, não foi o cinema que me despertou a curiosidade para este livro. Foi num artigo da Slate, que observava dois pontos muito curiosos sobre o livro e o seu autor, que me intrigou com estas histórias. Primeiro, por referir que hoje em dia, um autor como Alvin Schwartz seria impossível nos dias de hoje. Passou a sua carreira enfiado em bibliotecas, especialmente a de Princeton, recolhendo informação para escrever livros temáticos encomendados por editoras. As Stories originais partiram daí.

O segundo ponto intrigante tem a ver com o livro e a leitura. Estes livros são destinados a um público infanto-juvenil, e o seu lado macabro tem levantado muitas sobrancelhas entre os adultos. Ler um artigo sobre livros que volta e meia estão na mira de grupos de cidadãos preocupados com a mente impressionável da crianças, cujo acesso é defendido por bibliotecários resistentes, intriga. Especialmente quando o sucesso do livro se fez por encantar, ou mais apropriadamente, arrepiar, gerações de crianças curiosas, que se atreveram a desafiar as imposições e leram as histórias assustadoras deste livro. Um ato de transgressão essencial, que marca o necessário afastamento do gosto normalizado, um momento formativo de personalidade.

As histórias em si são terror no estado puro. Não no sentido escatológico, Lovecraftiano, cósmico, vitoriano, tenebroso, gótico ou outros qualificativos tão ao gosto dos fãs e conhecedores do género. São histórias simples, recolhas de lendas e tradições. Aquelas histórias que todos ouvimos contadas por alguém que conhece alguém que conhecem alguém a quem estes mistérios aconteceram. Algumas parecem fazer parte do inconsciente coletivo humano, mantendo-se na sua forma essencial ao longo dos séculos. Um excelente exemplo é a história da rapariga que pede boleia numa estrada escura, à noite, que se revela ser um fantasma. Schwartz traça-a aos romanos. Talvez o que mais se aproxima hoje destas histórias são as lendas urbanas contemporâneas, e o creepypasta.

Parte são histórias tradicionais que sobrevivem metamorfoseando-se em diferentes tradições culturais , outras são reflexos dos medos contemporâneos, narrativas de arrepiar que nos ajudam a navegar os terrores da vida moderna. Em conjunto, mostram a intemporalidade do medo, a tendência para enfrentar a escuridão e o desconhecido com narrativas que assustam, mas ajudam a desmistificar as trevas.

As histórias são muito bem acompanhadas com as ilustrações inquietantes de Stephen Gammel. Tornaram-se icónicas, e são francamente atrevidas. Aliás, todo o livro é um atrevimento, entre os lados narrativo e visual. Destina-se a leitores impressionáveis, e atreve-se a impressioná-los com histórias e imagens inquietantes. Um horror poderoso na sua simplicidade.