terça-feira, 3 de setembro de 2019

Aftershocks


Marko Kloos (2019). Aftershocks. Seattle: 47North.

Uma excelente surpresa. Descobri o gosto pela FC militarista de Kloos com a série Frontlines, mas percebi pelos últimos volumes que a premissa se estava a esgotar, e a história não estava a ir para lado nenhum. Talvez o autor tenha pensado o mesmo. Este Aftershocks é o início de uma nova série, e é Kloos a fazer aquilo que faz bem: a montar um excelente enredo militarista.

Desta vez, o palco é um sistema solar colonizado por humanos, no rescaldo de uma guerra que opôs os colonos do planeta com melhores condições de habitabilidade aos restantes planetas colonizados. Uma guerra que os imperialistas perderam, estando agora sob ocupação da aliança vitoriosa. No planeta, começa a desenhar-se uma sublevação terrorista que não poupa ninguém, quer autóctones quer ocupantes, com armas avançadas. No espaço, sucedem-se estranhos eventos, com naves a ser roubadas e piratas que têm clara origem em operações secretas. A história é contada em quatro pontos de vista. Um prisioneiro de guerra recém-solto, que não tem quaisquer razões para regressar ao seu planeta natal. A jovem herdeira de um império económico, quase desmantelado pelos ocupantes. Um comandante de fragata espacial, que se vê envolvido em eventos misteriosos durante as suas patrulhas. Uma oficial da força ocupante, que vê os seus soldados dizimados numa inesperada ação de guerrilha, mas que está a desenvolver uma forte simpatia para com os habitantes do planeta que ocupa.

Este livro é um claro colocar de peças no tabuleiro de xadrez, um prelúdio para os próximos volumes. Nisso, tem uma enorme falha. Todo o livro tem um crescendo de tensão, anunciado algo de decisivo que irá dar o mote à série, mas Kloos termina o livro sem o revelar. Isso é um erro. Os autores da série Expanse fazem o exato oposto, terminam os seus volumes com uma revelação que funciona como cliffhanger para o próximo. Kloos termina Aftershocks de forma indecisa, e para o leitor, frustrante. Falta aquele elemento decisivo do enredo, o toque de caos que faz desabar o castelo de cartas que Kloos meticulosamente constrói, e desperta a curiosidade para o próximo volume. De resto, é uma excelente obra de entretenimento, que usa muito bem as estruturas narrativas da FC militarista, e que não pretende ser mais do que uma leitura divertida. E, reparem, precisamos tanto das leituras leves, como das mais profundas.