terça-feira, 6 de novembro de 2018

Robótica e Trabalho: O Futuro Hoje


António Moniz (2018). Robótica e Trabalho: O Futuro Hoje. Lisboa: Glaciar.

O intrigante neste livro é propor-se a fazer um estudo sobre os impactos da robótica na economia portuguesa. Algo que consegue, de forma difusa, num misto de escassez de dados disponíveis e tendência muito recente da introdução de tecnologias de robótica na indústria e serviços por cá. Mas deixa bem claro que está a acontecer, especialmente ao nível de médias e grandes empresas das áreas industriais. É curioso descobrir que os trabalhadores da AutoEuropa reivindicam a sua substituição por robots nalgumas tarefas que trazem danos para a saúde, ou a experiência de pequenas e médias empresas na área metalúrgica, que vêem na robótica um fator decisivo para serem competitivas ao nível global.

Como introdução ao campo da robótica, este livro é muito interessante, especialmente por não ter sido escrito por engenheiros e roboticistas. O autor-coordenador e seus colaboradores são economistas, esta é uma obra sobre tecnologia firmemente ancorada nas ciências sociais. Olham para a tecnologia na perspetiva do impacto económico, dividindo com rigor os campos da automação e da robótica. Socorrem-se dos dados hard, cheios de tabelas cheias de números, que os economistas tanto gostam, e que mostram, mesmo por cá, uma tendência crescente da adoção de robots na economia.

Resta refletir sobre o seu potencial disruptivo no mundo do trabalho. Aqui, o livro mantém-se num sóbrio meio termo entre as visões utopistas e as apocalípticas. Não escondem o fato que a adoção de robots tem impactos diretos na substituição de postos de trabalho, mas apontam para o fato destas máquinas não serem verdadeiramente autónomas, obrigando a recriar postos de trabalho ou a criar novas ocupações. Apontam casos em que trabalhadores substituídos ganham novas funções trabalhando em conjunto com robots, ou novas profissões decorrentes da necessidade de técnicos para lidar com máquinas. É uma visão fluída, longe de alarmismos, que reconhece que a robótica traz impactos ao mundo laboral, mas não numa perspetiva de extermínio de postos de trabalho. Alerta para a apatia dos sindicatos e organizações laborais nestas questões.

Talvez o maior mérito deste livro é ser, tanto quanto sei, o primeiro livro de autores portugueses que aborda estas questões.