quinta-feira, 1 de junho de 2017

Dylan Dog: Spazio Profondo; Mai Più, Ispettore Bloch; La Morta Non Dimentica.


Roberto Recchioni, Nicola Mari (2015). Dylan Dog #337: Spazio Profondo. Milão: Sergio Bonelli Editore S.p.A..

Tinha que ser Recchioni, talvez o melhor argumentista de Dylan Dog a seguir a Sclavi, a arriscar esta mistura de terror e FC. É elegante a forma como resolve a incompatibilidade entre uma personagem contemporânea e o futurismo da FC. Estamos num futuro longínquo, em que as naves da grande Albion sulcam os vazios do espaço, e são confrontadas com uma epidemia de assombrações que o espírito de lógica científica do futuro não consegue explicar. é preciso alguém com outra sensibilidade para compreender e erradicar os assomos sobrenaturais. Dylan acorda no futuro, dentro de um corpo robótico que em tudo se assemelha ao seu, não como espírito transposto por meios sobrenaturais mas como constructo digital, andróide com memórias implantadas a partir da reconstrução virtual da sua personalidade a partir de diários e relatos em jornal. A sua tarefa: investigar uma nave assombrada, junto de uma equipa de outros andróides que representam um detalhe da sua personalidade. A história desenrola-se num bom ritmo de FC-terror, com os personagens a tentar sobreviver a monstros vampíricos que encarnam as suas memórias. Só o final destoa, com a aniquilação final da nave e dos monstros a lançar este Dylan andróide numa dimensão infernal paralela. É um gimmick que resulta mal, a encerrar uma belíssima aventura do Old Boy.


Paola Barbato, Bruno Brindisi (2015). Dylan Dog #338: Mai Più, Ispettore Bloch. Milão: Sergio Bonelli Editore S.p.A..

O Inspector Bloch é uma das personagens indissociáveis de Dylan Dog. Não é um Lestrade para um Sherlock; Bloch não serve como desculpa para o genial investigador revelar como conquista os mistérios. A relação é de simbiose e amizade, com Bloch a socorrer-se de Dylan nos casos estranhos e este a pedir favores a Bloch quando precisa de informações policiais. Partilham bebidas nos pubs, apesar de Dylan ser abstémio e beber água enquanto Bloch saboreia uma pint. Em 2015, a relação de sempre foi revista pela equipa editorial de Dylan Dog. Bloch, cuja principal preocupação nos casos em que se vê envolvido é não perder a sua reforma, passa finalmente à reforma. A lógica é insuflar ar fresco na série, levando Dylan a ter de interagir com outro interlocutor na Scotland Yard.

E como é que um inspector encara o facto de, de um dia para o outro, deixar os seus afazeres? Muito bem, aparentemente, mas de facto cai na depressão. Será salvo por um estranho aliado, que não se interessa especialmente pelo ex-inspector mas se interessa muito por Dylan Dog. À beira do suicídio, Bloch redescobre o gosto pela vida graças a este novo amigo, mas há consequências disso. Durante uns tempos, ninguém é capaz de morrer em Londres. Cadáveres mantém-se vivos, os idosos nos lares estão vivos apesar de tudo apontar o contrário, vítimas estropiadas de acidentes fatais mantém-se vivas. A Morte tirou umas férias, deixando o seu trabalho de lado para ajudar Bloch a encarar a vida. A amizade entre a Morte e Dylan Dog é um dos temas recorrentes da série. Chegaram até a jogar partidas de xadrez, num aceno a Bergman.

Dylan apercebe-se disso ao investigar o caso de uma mulher morta que não consegue morrer. No decorrer da história, percebendo que o novo amigo de Bloch é a Morte, pega na sua foice e tenta matar de vez a mulher morta, mas não o consegue. Se alguém vivo tenta ceifar alguém morto com a foice da Morte, o resultado é o inverso, e a vítima fica condenada a uma morte viva.


Paola Barbato, Bruno Brindisi (2015). Dylan Dog #349: La Morta Non Dimentica. Milão: Sergio Bonelli Editore S.p.A..

No episódio em que Bloch se reforma, Dylan Dog inadvertidamente condena à vida um par de criminosos mortos. Se ele é um perfeito pau mandado, ela, que iniciou parte dos eventos desse episódio, decide vingar-se de Dylan por este não lhe ter dado o descanso final. É neste episódio que o fará, com ajuda de uma taxidermista excepcional. A polícia londrina depressa se vê no meio de uma epidemia de taxidermia, com cadáveres preservados em poses naturais a aparecer um pouco por todo o lado, e a morta-viva quase consegue vencer Dylan, ameaçando o seu amigo Bloch. Uma história bem montada por Paola Barbato, que sem ser exepcional lida bem com o personagem.