terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Visões


Europa Report (Sebastián Cordero, 2013)

Estava convicto que The Martian era o filme mais hard SF dos últimos tempos. Apesar de Ridley Scott ter conseguido não estragar a colisão marciana entre a engenhosidade de Robinson Crusoe e tormentos de Job do muito bem informado livro de Andy Weir, o rigor da sua plausibilidade empalidece perante a solidez de Europa Report. Filme discreto de 2013, distingue-se pela dureza cortante da sua visão hard SF, sempre a caminhar na linha da plausibilidade científica, sem concessões à espectacularidade e entretenimento. Não que seja um filme isento de questões. Há algumas incoerências nesta história de uma expedição organizada por uma empresa privada à mais intrigante das luas de Júpiter, em busca de vida debaixo do gelo de metano de Europa. Para começar, soa estranho que seja lançada uma missão de longa duração sem preparações prévias, algo que o filme muito cedo coloca de lado. E se Europa alberga vida (spoiler gigantesco nas palavras que se seguem, mas já sabem qual a minha opinião sobre este assunto), faz pouco sentido que se detectem vestígios bacterianos sem mais nenhum sinal do ecossistema até ao momento final, com o vislumbre da criatura tentacular lovecraftiana que encerra o filme. É um pouco como mergulhar num oceano terrestre, dar com uns líquenes, e levar com uma lula gigante em cima sem nunca se deparar com mais nenhum peixe, ou sequer uma análise à água revelar vida microscópica. São talvez as duas grandes falhas de um filme metódico, que se faz de representações plausíveis de missões espaciais e discussão científica na linha directa da FC clássica de exploração espacial numa história de dedicação à ciência e sacrifícios. A estética found footage é usada com muita eficácia para tornar sólida a história sem recorrer à espectacularidade previsível dos efeitos especiais expectáveis neste género de filme.