quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Interzone #258

 
Será assim tão difícil encontrar novos escritores de ficção cientifica com vontade de publicar? Lendo a Interzone, parece que sim. A maior parte do que edita está longe do registo de FC, sendo nalguns casos de fantasia pura e noutros contos classificáveis como de literatura mainstream. O estreitar de horizontes com demarcação excessivamente rigorosa dos géneros não é saudável, claro, e é desejável, mas este leitor começa a sentir falta de alguns foguetões a temperar as narrativas com outras ambições literárias.

A Shout Is A Prayer, T. R. Napper: Uma história sobre desigualdades extremas num mundo hiperliberal, com um ex-lutador obrigado a entrar num contrato de servidão para assegurar a liberdade de dívidas da sua família. No fundo,  uma projecção do mundo contemporâneo,  precarizado, dominado por interesses económicos que pulverizam a ordem social, num futuro proximo.

The Re'em Song, Julie Day: uma aventura de fantasia pura, num mundo fantástico onde a carne e os ossos de unicórnios selvagens são um bem precioso. As paisagens ficcionais deste conto serão fascinantes para fãs de fantasia, mas confesso este texto foi lido em diagonal.

Doors, Bonnie Stufflebeam: Um conto mais inserido no realismo mágico do que na FC, nesta história onde uma jovem leva o seu irmão com síndrome de down a um parque de diversões e encontra uma estranha atracção que lhe abre as portas de outras realidades possíveis. Narrativa sólida, vinda de um nome já habitual na Interzone.

Angel Fire, Christien Gholson: Conto que não se percebe muito bem o que anda a fazer nesta revista. As menções a anjos dão-lhe uma aura de fantástico, mas o ser uma longa ruminância mental sobre hipocrisia e enriquecimento tornam-o o tipo de texto cuja inclusão numa revista de ficção científica, por lata que seja na sua abordagem, é de difícil compreensão.

Her First Harvest, Malcolm Devlin: Para encerrar, um toque de FC com uma dose simpática de fantasia estética. O primeiro embate de uma jovem debutante com a alta sociedade planetária é a faísca que nos acompanha no desenrolar da colonização de um planeta rico em minerais mas agreste, que obrigou os colonos a adaptar os métodos agrícolas para sobreviver. Vivendo num solo estéril, plantam as sementeiras nos próprios corpos.