quinta-feira, 20 de agosto de 2015

El Sabueso y otras historias

 
 Gou Tanabe (2015). El Sabueso y otras historias. Barcelona: Editorial Ivrea.

É intrigante constatar o fascínio contínuo que a obra de H. P. Lovecraft excerce hoje sobre escritores e desenhadores. A prosa deste autor pulp que quase caiu no esquecimento, com todos os seus defeitos estilísticos e temáticos, conjura um tipo muito próprio de terror classicista que exerce um fortíssimo fascínio nos apreciadores e criadores do género. Esta adaptação para mangá de Gou Tanabe de três dos seus conhecidos contos (The Hound, The Nameless City, The Temple), cruza a estética da banda desenhada japonesa com o terror visceral e europeísta de Lovecraft. O registo gráfico é notável, sumptuoso nas trevas e no invocar das deformidades aterrorizantes que caracterizam a obra lovecraftiana.

El Templo: A interpretação gráfica que Tanabe dá a este conto distingue-se pela forma como retrata os espaços claustrofóbicos de um submarino alemão cuja tripulação enlouquece. À deriva submerso no oceano, condenado pelos motores destruídos, aproxima-se de um misterioso templo debaixo das águas, talvez um resquício de estilo helenista da antiga atlântida. É curiosa a forma como Tanabe nos leva da claustrofobia do interior do submarino a espaços visuais amplos onde os mistérios submersos se cruzam com um formalismo baseado na arte grega da antiguidade clássica.

El Sabueso: Versão de The Hound, a história aterrorizante de dois jovens decadentes cuja busca insaciável pelos prazeres mórbidos os leva a deparar-se com um aterrorizante defensor de um artefacto misterioso. São muito interessantes os contrastes gráficos entre uma certa elegância mórbida dos jovens protagonistas e a escuridão profunda dos momentos de terror.

La Ciudad Sin Nombre: Se o estilismo de Tanabe se caracterizou pelo rigor formal nas duas primeiras histórias, o seu traço torna-se mais solto e expressivo ao abordar The Nameless City. As ruínas soterradas sob os desertos arábicos ganham um curioso ar bizantino que é muito eficaz a invocar o ambiente de fascínio e estranheza pelos locais remotos que ocultam segredos tenebrosos que caracteriza o conto original.

Pormenor curioso: comprei este livro na livraria Fnac de Callao, no centro de Madrid. Livraria essa que conta com toda uma secção dedicada ao mangá, dividido pelos seus géneros. As secções de banda desenhada e comics não lhe ficam atrás, e até se encontra algum fumetti. O Mater Morbi de Recchionni estava em destaque. Tudo em espanhol, traduzido e editado. Por lá há mercado. E é um mercado tão dinâmico que esta edição do mangá lovecraftiano de Tanabe foi comprada em agosto mas assinalada como editada em setembro de 2015...