quarta-feira, 1 de julho de 2015

Prazeres


Pisquem os olhos, e não dão por isto. O clássico personagem britânico tem chegado ao público português através de edições da brasileira Mythos, que não são tão fáceis de se encontrar quanto se esperaria. Percebi que a livraria do El Corte Inglès costuma ter as megazines brasileiras. Já não vou a tempo de coleccionar a Juiz Dredd, mas de quanto em vez aparecem estas edições especiais, a coligir material mais antigo sob temática coerente. Nesta, a ironia violenta vinda dos tempos thatcheristas que nos ensinam que a democracia não é a melhor forma de governo. Apologia do autoritarismo violento, levada ao absurdo para nos levar a reflectir sobre como é fácil esquecer os valores basilares da moderna sociedade ocidental.


A Comix não faz parte das minhas leituras habituais, mas na edição mais recente tive de abrir uma excepção. Publica a tradução de Dylan Toppi, uma homenagem bem humorada dos argumentistas da Bonelli que usa o estilismo Disney em homenagem bem humorada a Dylan Dog. O título, e a ilustração  são uma vénia profunda a L'alba dei morti viventi, a primeiríssima aventura do detective dos pesadelos às mãos do seu mentor e mais genial argumentista, Tiziano Sclavi. Não se nota na tradução, que nos deu ratos chatos no lugar de alba dei topi invadenti. Tecnicamente correcto, mas perdendo o lirismo bem humorado que remete para a cinematografia de zombies que Sclavi invocou no original. Ainda por cima temos Roberto Recchioni a escrever, o que é garantia de qualidade. A seguir ao genial Sclavi, um caso estranho dentro do panorama dos fumetti, Rechionni tem demonstrado consistentemente ser o melhor argumentista de Dylan Dog, capaz de argumentos que invocam o terror erudito que Sclavi incutiu nas melhores aventuras deste personagem praticamente desconhecido em Portugal. E diga-se que se ao Mickey assenta muito bem este cosplay de Dylan, o Pateta está muito bem como Groucho, o cómico assistente do investigador.