segunda-feira, 25 de maio de 2015
Comics
The Fade Out #06: Depois de Fatale, este regresso de Brubaker e Phillips ao crime noir tem o seu quê de insosso. Falta-lhe o elemento weird que deu à série anterior a sua genialidade. Esta é aquilo que esperamos e conhecemos destes autores, num registo de policial com toques de Black Dahlia, vícios e depravações de Hollywood, sem esquecer as intrigas das depurações ideológicas da era McCarthy. Sean Phillips sabe o que está a fazer e apostou num visual iconográfico, que puxa pela nostalgia do cinema clássico, justapondo figuras larger than life aos comuns mortais.
Kaptara #02: Ainda estou para perceber onde é que Chip Zdarsky quer chegar com esta coisa estranha. Começa com a mais clássica das premissas de Ficção Científica, a expedição planetária arrastada por uma anomalia cósmica para partes desconhecidas, e mergulha-nos num mundo que pode ser melhor descrito como uma colisão alimentada a drogas psicadélicas das piores e mais ridículas séries de desenhos animados infantis de fantasia dos anos 80. Se esta imagem ainda vos deixa na dúvida, digamos que o vilão da narrativa se chama Skullthor. É difícil ser mais explícito do que isto, mas Zdarsky é-o, com um príncipe descrito como as bright as a black hole pela própria mãe, uma rainha claramente apaixonada pelo seu capitão da guarda real, cuja armadura veio decalcada de Flash Gordon. Do adorável mau filme dos anos 80, não da série clássica. Já o herói é um terrestre que se está nas tintas para salvar a Terra da ameaça da frota espacial de Skullthor (yep, este nome.. faz lembrar qualquer coisa, não faz?) e é servido por um atento robot servidor capaz de qualquer serviço excepto recordar-se do nome do seu amo. Suspeito que o argumentista esteja a exorcizar traumas de demasiadas horas a ver He-Man and the Masters of the Universe quando era criança. E traumas infantis são dos mais difíceis de ultrapassar.
Trees #09: É Warren Ellis, e para mim Ellis é maior que deus. Incrível, a forma como sente o pulsar da modernidade transformativa resvalante e a consegue transmutar para as suas histórias. Notem bem esta sequência, a forma como consegue integrar as correntes discussões sobre as problemáticas e potencialidades dos veículos robotizados. Sem infodumps didácticos, inserido na normalidade do mundo ficcional, mas a cristalizar quer as especulações quer a investigação mais recente sobre o tema. Se Ellis não for o argumentista mais pertinente da contemporaneidade, um William Gibson dos comics, não sei quem será.