segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Comics


Letter 44 #10: Charles Soule anda a contar-nos uma divertida e bem construída história sobre um primeiro encontro entre alienígenas e terrestres. Tudo parece apontar para uma invasão iminente, e um presidente americano reage envolvendo a américa em todas as guerras em que pode para endurecer as suas tropas enquanto ordena o desenvolvimento secreto de tecnologias avançadas. A missão tripulada à nave alienígena que se encontra no sistema solar parece à partida condenada. Como poderá uma frágil nave terrestre fazer frente a um misterioso e poderoso oponente, capaz de atravessar a vastidão do espaço interestelar? Os confrontos em escalada acabam por se resolver através do mais elementar dos sentimentos, a curiosidade mútua. Entretanto, na Terra, um novo presidente decide desvendar as tecnologias militares avançadas para pôr um ponto final nos conflitos militares em que está envolvido. E, claro, a presença massiva de uma nave extra-terrestre no sistema solar é um segredo conhecido apenas pelos cientistas, militares e mais poderosos líderes do planeta. Soule podia despachar a história num cenário clássico de invasão apocalíptica, mas há medida que a vai desenvolvendo vai montando um intricado puzzle que mistura boa ficção científica com uma reflexão sobre as crises geopolíticas contemporâneas.


Bodies #03: Este título da Vertigo continua intrigante. Assassínios rituais que se repetem ao longo de várias épocas no mesmo local da cidade de Londres, uma mescla de passado, presente e futuro que coloca nas mesmas páginas mas com diferentes estilos gráficos um detective vitoriano que toma Sherlock Holmes como exemplo, um médico legista alemão que se oculta debaixo da anglicização do seu nome durante o Blitz, uma agente policial muçulmana convicta de véu e forte personalidade, e uma investigadora num futuro que roça a incompreensibilidade. Intrigante, bem escrito apesar de fragmentário.


Legenderry #07: Isto nem parece escrito pelo Bill Willingham, ou talvez o argumentista de Fables não seja tão bom quanto aparenta. Legenderry foi uma brincadeira interessante, recriando sob o estilo Steampunk personagens tão diversos quanto The Phantom, Red Sonja, Flash Gordon, Vampirella, Zorro e Green Hornet, entre outros, junto com os seus inimigos. A Dynamite especializou-se em dar novas roupagens a personagens clássicos e este toque steam foi uma variante interessante. Mas termina de forma tão patética e mal amarfanhada que surpreende pela negativa. As linhas narrativas e pontas soltas são resolvidas à pressa, sem subtileza, a despachar para concluir a série. É pena. É um final triste para uma série interessante.


The Massive #27: Outra série cuja conclusão se aproxima. Toda a sua premissa assentava na busca pelo navio The Massive, perdido nos oceanos de uma Terra à beira do colapso ambiental. E quando os intrépidos activistas a bordo do navio Das Kapital o encontram, o sinal é óbvio. A história está a chegar ao fim. Diga-se que já se sentia a exaustão da história, mesmo com Brian Wood a fazer desvios interessantes pelos dilemas de um mundo à beira da derrocada onde a necessidade de sobrevivência e a cupidez capitalista não cessam de colidir. Wood parece ter adoptado o tom de futurismo apocalíptico fatalista e inevitável, concluíndo com um arco intitulado Ragnarok, referência subtil à aniquilação planetária. Mas deixa uma réstea de esperança no engenho humano: o navio perdido alberga uma ecotopia, talvez capaz de manter uma réstea da humanidade num planeta que está a perder a habitabilidade.


Pariah #08: Esta série discreta contava-nos as desventuras de um grupo de crianças e adolescentes expulsas do planeta por uma humanidade assustada com as capacidades que lhes foram conferidas pela modificação genética. O grupo de génios foi aprisionado numa estação espacial e a história lida com as tentativas de governos e organizações os eliminarem de várias maneiras, desde a indução de avarias no suporte de vida a ataques com mísseis nucleares. Falham, claro, e os mísseis até dão uma ajudinha num projecto acalentado pelos inteligentes párias: desenvolver sistemas de propulsão avançada e partir em direcção ao espaço interestelar. Mas com a Terra a ser assolada por uma pandemia alguns destes génios criados pela manipulação dos genes sentem a obrigação de regressar à superfície, utilizando as suas capacidades cognitivas para benefício de uma humanidade arrependida de se ter tentado livrar daqueles de quem teve medo. Discreta, quase passando despercebida, com um estilo narrativo pouco dado a grandiosidades, não deixou de ter alguns bons momentos de ficção especulativa.