segunda-feira, 28 de julho de 2014

Comics


Afterlife With Archie #06: Nunca imaginei escrever isto sobre as aventuras do all american boy, mas esta série está sublime. Depois da obrigatória vénia a Romero ter transformado o sonho da bucólica pequena cidade americana numa infestação de zombies, é a vez das anódinas bruxarias de Sabrinna The Teenage Witch levarem um toque lovecraftiano. Um toque é má metáfora. Está a ser mais rolo compressor. O argumentista Aguirre-Sacasa traz-nos o escritor de horrores da Nova Inglaterra e não se esquece de uma boa dose de Machen. Já a ilustração de Francavilla está excepcional, dando o toque extra a uma série muito intrigante. Diga-se que a Archie Comics anda a levar a sério o conceito de inovação disruptiva. Na linha mais clássica parece que há um arco narrativo onde o eterno adolescente é assassinado ao tentar proteger um amigo gay que se vai casar. Devo dizer que é muito interessante ver esta aposta de uma casa editorial que poderia muito bem apostar na reciclagem do que tem feito ao longo dos anos, que está a alienar alguns sectores da comunidade de fãs, mas renova iconografias clássicas para o mundo contemporâneo.


The Midas Flesh #08: Esta divertida e bem escrita série Young Adult da Boom! chega ao fim em excelente forma, com um certo toque cósmico. Deuses intervêm, mas os três intrépidos heróis não se deixam intimidar pela supremacia das divindades. Heróis que, note-se, são um exemplo de inclusividade: uma jovem corajosa, uma muçulmana cheia de génio e um dinossauro falante. Há aqui um demolir deliberado de estereótipos raciais e de género, outro dos aspectos intrigantes da série. O final é cósmico. A maldição de Midas alastra pelo universo, cuja transmutação em ouro vai acelerar a entropia final e o nascer de um novo universo onde a história se repete, cíclica. Um título de uma profundidade inusitada para o género.


Supreme: Blue Rose #01: Não conhecendo o historial desta personagem de super-heróis da Image não posso dizer muito sobre este comic. Só que é escrito por Warren Ellis, o que causa logo alertas no radar. Se a mitografia do personagem me escapa o estilo narrativo de Ellis, como sempre, não desilude com a singular mistura de radicalismo e poesia da hipermodernidade com doses de ficção científica em estado surreal. Toda a sequência premonitória de sonhos com uma criatura que nos fala da superfície de um lago de metano em Titã remete para o historial clássico da FC. E Ellis não se esquece de ser levemente meta-ficcional inserindo as aventuras pulp do personagem favorito da personagem.


Velvet #06: Se o argumento de Brubaker é um primor de thriller de espionagem com a variante intrigante de se centrar numa agente de meia idade, há outro elemento que transforma Velvet numa série espantosa. A ilustração pictórica de Steve Epting e Elizabeth Breitweiser oscila ente o normal dos comics e vinhetas muito próximas da pintura.  Isso nota-se particularmente neste sexto número da série, com a equipe de ilustrador e colorista a deslumbrar nas paisagens urbanas.


Wild Blue Yonder #05: O épico retro-futurismo distópico de sensibilidade dieselpunk está de regresso, e que espectacular regresso. Parece estranho recomeçar in media res concluindo a acção da primeira série, mas funciona e estabelece o palco para novos desenvolvimentos. Mas vou ser honesto. O que me faz gostar desta série não é a história em si, mais uma iteração do conceito de rebeldes contra autoridades imperialistas num futuro distópico. É o conceito de um mundo caído em desgraça, onde viver em terra firme é sinónimo de baixeza social e só acontece no topo das montanhas, enquanto frotas de aeronaves deambulam pelos céus. O céu como vasto oceano, com uma frota militar a dar caça implacável a uma aeronave tripulada por rebeldes, que se defendem com variantes a jacto de P-38s, Mustangs e guerreiros com jetpacks. É o suficiente para deixar o fã de fc e o fã de aeronaves que vivem dentro de mim em partilha deslumbrada.