segunda-feira, 21 de julho de 2014

Black Swan



Bruce Sterling (2010). Black Swan. Milão: 40K.

Tem sido evidente que Sterling se apaixonou pela ideia de Europa de uma forma que só o turista prolongado consegue. Fascinado pela elegância italiana, celebridades francesas, capacidade alcoólatra ex-jugoslava, pelas complexidades rizomáticas da intricada cultura europeia que admira pelo optimismo progressista. Haja alguém que ainda acredite no sonho europeu. Ou isso ou sabe-lhe demasiado bem enrolar a língua com nomes estranhos ao inglês texano. Este antigo enfant terrible do cyberpunk metamorfoseou-se em guru da tecnologia e isso sente-se na sua ficção. Suspeito que os contos que vai publicando aqui e ali sejam escritos para se convencer de que ainda consegue escrever mais qualquer coisa que não sejam insights potentes sobre as armadilhas da era digital, algo em que é muito bom.

Este é um caso típico. Percebe-se o deslumbre pela forma como utiliza a iconografia pan-europeísta com toques de hipermodernidade tecnológica. As personagens são os prototípicos entes do novo mundo digital, desde o blogger que vive de scoops ao hacker sombrio, sem esquecer as personalidades vácuas dos media e a modernidade decorativa e arquitectónica que preserva o clássico pitoresco. Dá uns toques cyberpunk com uma história sobre realidades paralelas criadas colapsando probabilidades quânticas de acordo com a interferência do observador. Mas o que realmente o deslumbra é imagem soalheira do pan-europeísmo chic, mescla de elegância, fascínio tecnológico, arquitectura pitoresca das velhas cidades e traços de carácter nacionalistas, que acabam por levar a primazia nestas suas mais recentes histórias. Isto é o Bruce Sterling de Holy Fire, versão redux, longe do Sterling de Schismatrix. Mas sublinhe-se que um Sterling mediano é mais acutilante, interessante e observador da modernidade do que excelência de muitos, por isso vale sempre a pena ler. É como mergulhar no Beyond the Beyond ou no Tumblr, com ficção a substituir as realidades de ponta.