quarta-feira, 23 de julho de 2014

Adrastée


Mathieu Bablet (2013). Adrastée T01. Roubaix: Ankama.


Mathieu Bablet (2014). Adrastée T02. Roubaix: Ankama.

Um rei amaldiçoado pela imortalidade parte em busca do porquê da sua incapacidade de morrer. Quando jovem sempre que comia vomitava uma pedra. Deixou de comer, e parou de envelhecer, acompanhando viçoso o declínio e extinção da sua Hiperbórea. O filho odeia-o, a mulher fenece, os seus súbditos tornam-se pó, só restam o seu palácio e a esfinge que lhe guarda as fronteiras. Mil anos depois, atravessa os portões do seu reino esquecido para atravessar a Grécia antiga, cruzando-se com reinos desavindos, rainhas amaldiçoadas, deuses impotentes, sátiros narradores com propensão para lhe dificultarem a vida com retoques narrativos, descendo aos infernos para questionar as três parcas do porquê da sua imortalidade. Pelo caminho sofrerá atribulações, desesperos, e lutará constantemente pela sua memória que também se desvanece.

Fábula em dois volumes que homenageia a mitologia grega, Adrastée vive do esplendoroso traço do seu criador. Bablet deixa em cada vinheta cenas arrebatadoras. O tratamento que dá à arquitectura é espantoso, com arquitecturas de fantasia a deixar sonhar a imaginação. O lado mais humano da história também não lhe fica atrás. Por mim, estou indeciso entre a espectacularidade das arquitecturas fantásticas deste autor ou a visão que deixou nas pranchas de Talos, o mítico homem mecânico da Grécia antiga. Aliás, não estou. Estes dois álbuns são uma profunda vénia à magia mítica de narrativas que o tempo e a memória humana não só não esqueceram como continuam a apaixonar e influenciar a ficção contemporânea. Há arquétipos poderosos nas velhas histórias vindas das noites profundas da ática e do peloponeso.