terça-feira, 20 de maio de 2014

Comix


Fui ao supermercado... e saí de lá com uma prendinha. Intriga-me esta estratégia da Goody em apostar numa publicação regular intensa de um leque de revistas Disney. Apesar da garantia de atenção desperta dada pela longa tradição da Disney na BD infantil, é de notar que estamos a viver tempos de profunda crise, este segmento de mercado é restrito e uma revista não é um produto prioritário. Ttalvez esteja a servir como alternativa barata aos mimos que pais e avós gostam de oferecer às crianças. O que se nota é que, pela proliferação e continuidade de lançamentos, algo está a correr bem. E ainda bem que assim é.


Já faziam falta publicações destas no mercado português. São essenciais para estimular a leitura, e em particular o gosto pela BD. Esta linha de pensamento até é assumida como editorial, apesar de estragarem a coisa com uma típica frase-treta de marketês com aquele adequada ao target no final.

Esta invasão Disney/Goody não é isolada. A Panini atreveu-se a editar comics da Marvel, e as editoras tradicionais ou independentes vão lançado livros novos, com forte destaque para os autores portugueses. Parece que estamos a viver um ressurgir da edição de BD em Portugal. É o terceiro que me recordo.

Nos anos 80 era fácil encontrar nas bancas BD da Disney e Marvel/DC naquelas traduções brasileiras da Abril e nas livrarias imperavam as edições franco-belgas da Meribérica. Tudo isso desapareceu e a BD por cá tornou-se raridade, mas entre o final dos anos 90 e os primeiros anos do século XXI a coisa pareceu mudar. Surgiram novas editoras com fortes apostas de mercado, numa explosão editorial que teve como efeito perverso saturar um mercado frágil. Depressa acabou, mas ficaram nas estantes muitas belíssimas edições de BD traduzida e de autores portugueses.

O que parece distinguir esta terceira vaga de dinamismo editorial é o forte foco na edição de BD escrita e desenhada por autores portugueses, aposta em plataformas múltiplas e esforço qualitativo que se tem traduzido num conjunto de livros marcantes. Outro ponto de interesse é que a lição da vaga anterior parece ter sido aprendida. Edita-se, editam-se coisas interessantes, mas não se satura um mercado que pela dimensão do país e anémicos hábitos de leitura,  apesar dos esforços de professores e educadores, será sempre frágil e reduzido. Entre as Disney e Marvel nas bancas, a SDE, Kingpin, Polvo e outras nas livrarias, edições digitais independentes de estúdios de criadores, esta é uma boa altura para a BD por cá.

(Mas bolas, lamento. Não consigo gostar do estilo gráfico dos comics Disney desenhados por italianos. É uma sensação estranha, as personagens ficam com um aspecto curváceo e voluptuoso. Mas note-se que este resmungo é um gosto pessoal, e já sou suficientemente crescidinho para distinguir entre preferências individuais e a necessidade de diversidade cultural.)