segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Comics


Astro City #09: Confesso que não tenho grande paciência para o iluminismo olímpico de Kurt Busiek. Percebe-se onde quer chegar, recriando o comic de super-heróis sob uma luz mítico-futurista com o seu quê de deificação greco-romana (o eu chamar-lhe olímpico tem mesmo a ver com o monte Olimpo e não com eventos desportivos). Já às ilustrações de Alex Ross não se resiste. Mas o que atraiu o olhar nesta edição foi uma palavra nesta vinheta: Grandenetti. Não, não é um santo fictício, é uma subtil homenagem a um dos mais marcantes ilustradores do comic clássico de terror. O que ele desenhava para a EC Comics misturava expressionismo com horror e distinguia-se, em revistas onde a qualidade do desenho era o ponto fundamental. Ao contrário de outros ilustradores dessa época, Grandenetti ficou remetido para uma certa obscuridade, tornando-se daqueles nomes que poucos conhecem mas que influencia os mais conhecidos autores e ilustradores da actualidade.


The Fuse: A Image aposta muito na ficção científica e nesta semana lançou nova revoada de títulos, alguns dos quais a usar descaradamente a FC como inspiração. É o caso deste, que aparenta ser mais uma variante do género policial no espaço. Intriga pela ideia de espaços orbitais habitados, embora o ilustrador não tenha ido mais longe do que isto na visualização das estações espaciais. O conceito promete mais do que o tépido desenvolvimento, que se fica pelo velho artifício da dinâmica entre polícia novato e agente veterano na investigação-périplo que enquanto vai desvendando crimes leva os leitores a visitar as geografias ficcionais da narrativa.


Fatale #20: Onde é que já vi esta imagem? Faz-me lembrar um clássico do cinema mudo, com Buster Keaton pendurado num relógio sobre Nova Iorque. Quanto à série, a boa notícia é que está a chegar ao fim. Pronto, não é uma notícia tão boa quanto isso, porque o que Brubaker e Phillips fazem nesta série genial que mistura policial noir com terror lovecraftiano é delicioso. É por isso que é bom que termine, para que a criatividade não se esgote na repetitividade de fórmulas, caminho seguido por tanta outra série intrigante. O final promete um desvendar dos mistérios da atraente femme fatale e dos cultos ocultos que a perseguem. Já os autores desvendam nas páginas editoriais o seu grande golpe: terem um contrato de absoluta liberdade criativa com a editora, o que promete muito. É de recordar que esta dupla tem sido consistente na genialidade dos seus comics.


Manifest Destiny #04: Este é um título da Image que tem sido discreto, mas vai melhorado a cada edição. O que à partida parecia ser mais um recontar em tons patrióticos da odisseia de Lewis e Clark tem-se revelado um visceral weird wild western. Chegados à imensa Louisiana para vistoriar a nova aquisição da república americana, deparam-se com um oeste imenso habitado por tribos aguerridas, florestas ameaçadoras, homens-bisonte com um gostinho gourmet por carne humana e uma praga de zombies vegetais que devastou as esparsas colónias. Podemos resumir esta série a... esperemos o inesperado. Hão de chegar às costas californianas, digo com alguma esperança de encontrar ainda mais fortes voos imaginários.


The Royals Masters of War #01: Deixem-me desde já deixar claro que acho a premissa deste comic patética. Acreditem que disse isto de forma simpática. A ideia de aristocratas como seres super-poderosos que não se metem nas guerras dos seus súbditos meramente humanos, até que um lá se digna a auxiliar em nome do patriotismo, parece mais um sonho infantil de um aristocrata do que argumento digno da Vertigo. Mas como sou um fascinado por qualquer coisa que tenha a ver com a II guerra, até mesmo por ucronias mal amanhadas de premissas patéticas, tive que experimentar. Se a história é aquilo que esperava dela, ou seja, não é grande coisa (a menos que se seja um leitor de sangue azul, a quem esta leitura despertará sonhos de poderes incomuns), já as ilustrações são de topo. Simon Coleby desenha um belíssimos e muito precisos Spitfires. E faz o mesmo a Wellingtons na espectacular abertura do comic. Não é o estilo limpo de Romain Hugault, mas não foge à representação precisa das aeronaves. Lá está, sendo um comic Vertigo, alguma coisa de bom havia de ter.


The Mercenary Sea #01: Para terminar, mais um novo título da Image. A história não promete muito, andando à volta com mercenários esquivos que sobrevivem de formas vagamente legais nas vastidões selvagens do Pacífico Sul. O que desperta o interesse é o grafismo fortemente estilizado, cheio de vinhetas deslumbrantes, apesar de nem sempre esta iconografia digital funcionar bem. Estilo não implica profundidade de conteúdos. Visualmente fez-me lembrar o espantoso Mister X, também uma série de grafismo marcante que se destaca no panorama dos comics, mas o argumento banal destes mercenários não chega aos calcanhares do retro-futurismo borgesiano de Dean Motter.