segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Comics


Alex + Ada #02: A culpa é de Asimov, que criou as famosas três leis da robótica aqui revistas com um toque corporativo e uma adenda protectora de disputas legais. Este comic distingue-se pelo conceito e pela visão. A narrativa dá uns toques nas questões psicológicas de possíveis relações entre humanos e andróides que os mimetizam, serventes fieis dos desejos dos seus donos. É curioso que estes criadores optam por seguir um caminho apontado no Alone Together de Sherry Turkle, sublinhando que este tipo seres mecânicos seria (será/é...?) utilizado mais como companheiro fiável do que sexbot de sonhos eróticos. Note-se que a ideia de optar por ter um andróide de companhia não é tão rebuscada ou futurista quanto isso, havendo já no mercado diversos tipos de modelos que vão de robots que simulam animais a bonecas animatrónicas. Estão longe da sofisticação destas utopias, mas enquadram-se dentro de uma linha narrativa que traça as suas raízes aos contos de Hoffman ou às evas do futuro de L'Isle Adam, ou mesmo ao mito de Pigmalião, com estas visões de seres humanos artificiais perfeitos. Outro pormenor curioso da série é o ambiente futurista limpo e corporativo, dentro da linha que Bruce Sterling apelida de flatpack futures.


Archer & Armstrong #16: Bolas, que deprimente. Parece que afinal as cabalas secretas que movem os cordelinhos por detrás das cortinas que ocultam o verdadeiro poder que move o mundo fazem algum jeito. Se se distraem com qualquer coisa como guerras internas para ver quem é que atinge o domínio planetário total o resto da humanidade decai no caos. Este comic da Valiant continua a aliar excentricidade com bom humor em toque buddy movie.


Coffin Hill #03: O enredo adensa-se e a série vai ganhando novos contornos. A cada edição o mundo ficcional amplia-se e os mistérios ocultos na misteriosa colina cheia de segredos macabros continuam por desvendar. Coffin Hill lê-se como a clássica história de bruxarias e fantasmas do passado que assombram a vida das personagens mas desenvolve-se em espiral, tornando os seus mistérios cada vez mais abrangentes. Desta vez temos o clássico enredo do asilo de loucos que alberga uma personagem secundária profundamente traumatizada com um desvio intrigante para essa outra estrutra narrativa do género que é o psiquiatra de sanidade duvidosa que efectua experiências macabras com os seus pacientes. Mas se pensamos que os autores nos explicam tudo para que a história fique bem compreendida, desenganem-se. O I don't give a fuck about your origin story é bem explícito e derruba outra das estruturas narrativas dos comics. Se outros argumentistas seguissem este exemplo muito comic que anda por aí reduziria drasticamente o número de páginas. Particularmente aqueles que se dedicam a recontar ciclicamente a origin story dos seus personagens. Sim, DC, estou a apontar o dedo a Batman, o mais icónico culpado do uso excessivo desta estrutura narrativa.


Doc Savage #01: Salvem-nos, heróis da ciência! Pronto, se tivesse usado science heroes inglês teriam percebido a referência no comentar de uma imagem com heróis pulp, capacetes em metal brilhante e armas futuristas. Só falta o jetpack. O clássico herói pulp está de regresso, desta vez entregue à Dynamite que foi buscar o classicista Chris Roberson para contar novas histórias deste ícone do género. O resultado é mais suave do que na anterior encarnação de Doc Savage na DC, com um olhar de época e um herói mais inteligente, menos musculado e pouco visceral.


2000AD Prog 2014: Para encerrar um ano de thrill power overload o massivo Prog 2014 mistura novas continuidades da revista com contos curtos de outras personagens. Para 2014 ficam prometidos os violentos e divertidos Sinister Dexter, Strontium Dog novamente e a minha paciência para esta série clássica nunca foi muito grande e agora que o Ezquerra decidiu aprender a colorir no computador até o seu grafismo se tornou desapontador, a loucura mecha de ABC Warriors. O que mais promete é Ulysses Sweet Maniac for Hire, num registo de humor violento scifi a tocar naquele lado inconfesso que todos temos, aquele lado que se ri como um perdido sempre que uma velhota é arrastada na passadeira por um carro e ricocheteia pelo trânsito, com pedaços de membros a chover sobre os transeuntes. Para mim a pérola deste prog especial foi uma curta de Absalom, o veterano comissário da Scotland Yard encarregue de policiar o submundo do oculto britânico.