quinta-feira, 10 de outubro de 2013

The Ouroboros Wave


Jyouji Hayashi (2010). The Ouroboros Wave. São Francisco: Haikasoru.

É impossível não comparar este livro ao Schismatrix de Bruce Sterling. As temáticas variam, claro, uma vez que a obra de Sterling se centra num trans-humanismo singularitário que alastra pelo sistema solar ao longo de séculos e este Ouroboros Wave focaliza-se num futuro próximo plausível. Mas estruturalmente são similares, com a obra de Hayashi a partilhar com Sterling uma construção narrativa feita a partir histórias autocontidas que partilham um espaço de ideias comum dentro de um mundo ficcional abrangente.

Hayashi dá-nos um cheirinho do que é a Hard SF com sabor japonês. O seu futuro é cronologicamente próximo e detalha o aproveitamento energético de um buraco negro detectado nas imediações do sistema solar. Um consórcio privado de exploradores espaciais decide construir uma esfera de Dyson no limiar do horizonte de acontecimentos para captar a energia emitida pelo buraco denominado, sem ironia, de Kali. Antes de se tornar esfera há que construir um anel e é essa a estação Ouroboros, anel em órbita de Kali que para além de ser uma fonte inesgotável de energia e um passo que permite à humanidade espalhar-se pelo sistema solar também parece funcionar como lente gravitacional e permite perscrutar sinais que poderão apontar para outras formas de vida inteligente na galáxia. Reprogramar os sistemas da estação para que a inteligência artificial observe locais específicos no espaço vai induzir um pequeno erro que trará consequências catastróficas e finalizará no lançamento de uma nave tripulada com destino a outro local na galáxia que poderá albergar uma civilização estelar que também aprendeu a usar buracos negros como recurso energético.

No caminho temos um conjunto de histórias autocontidas que pintam uma larga tela de exploração futura do sistema solar com elevado grau de plausibilidade. Não há tecnologias mágicas que facilitem o atravessar das vastas distâncias intrasolares. A humanidade espalha-se pelo sistema combinando requisitos de pesquisa com incentivos económicos. Num curioso aceno ou similaridade com Schismatrix há uma clivagem cultural entre a Terra original, conservadora mas assertiva do seu poder, e os exploradores que colonizam o sistema, baseados numa organização verdadeiramente meritocrática onde as decisões são colectivas e passados obscuros não são impedimento para novos futuros.

A temática e as ligações difusas entre personagens interligam os contos mas nota-se que cada um funciona por si só, podendo ser montados como elementos de um puzzle maior. O desenvolvimento narrativo acontece ao longo das histórias mas não está elaborado segundo a estrutura clássica do romance. Cada conto é modular e encaixa-se na narrativa geral. Hayashi esforça-se por desenhar cenários plausíveis atingíveis com tecnologia que hoje reconhecemos. Não esquece uma boa dose de saudável especulação, com as clivagens culturais entre os terrestres que se mantém no planeta e aqueles que se fazem ao espaço para explorar, colonizar ou buscar novas vidas, as premissas civilizacionais que apontam para uma potencial similaridade entre civilizações alienigenas que se expandem nos seus recantos do universo ou ideias menos filosóficas como o aproveitamento de energia de buracos negros, exploração comercial de matérias primas nos planetas do sistema ou o emergir de entidades privadas que se sobrepõem às agências institucionais de exploração espacial. Tudo descrito numa prosa concisa que vai guiando o leitor numa descoberta passo a passo desta sólida ficção científica hard.