segunda-feira, 2 de setembro de 2013

The Lord Of The Sands Of Time


Issui Ogawa (2009. The Lord Of The Sands Of Time. São Francisco: Haikasoru.

Num futuro não muito distante a humanidade foi escorraçada para os limites do sistema solar pelos ataques insistentes de alienígenas desconhecidos que se manifestam como cyborgs destrutivos. O planeta Terra já foi aniquilado várias vezes pelos ataques da força alienígena mas a humanidade tem um plano para ripostar e reconquistar o seu berço: estender a luta pelo espaço-tempo, enviando forças a momentos chave do passado que permitam à humanidade lutar contra a invasão. Só que ao fazê-lo vão começar a criar linhas temporais divergentes, ampliando o campo de batalha a cada nova acção. E fazem-no com andróides portadores de inteligências artificiais programadas para sentir empatia pela humanidade. Chamados mensageiros, têm a tarefa de derrotar de vez a ameaça extraterrestre. É esta a premissa deste intrigante romance de Issui Ogawa traduzido pela Haikasoru.

É numa destas linhas divergentes que num Japão medieval que mantém contactos com o império romano, a china e os poderosos reinos americanos aterra um destes andróides. Este reúne as forças de alguns reinos tribais para lutar contra uma infestação de alienígenas, acelerando o desenvolvimento tecnológico e liderando as tribos em combate. Apesar dos seus esforços é derrotado e aniquilado, mas é essa derrota que permite à humanidade bater os extraterrestres. A derrota obriga a indomitável Mayo, uma das líderes tribais que se apaixonou pelo andróide, a iniciar uma luta que se irá traduzir num novo império. Este derrotará inexoravelmente os extraterrestres na sua linha de tempo, e no futuro enviará ao passado os seus próprios mensageiros.

Nem tudo são lutas medievais neste intrigante romance. Somos levados ao futuro original da série, para compreender a génese do andróide e conhecer a humanidade que no distante ano de 2600 DC se espalhou pelo sistema solar, pressionada pela ameaça alienígena. Também somos levados a alguns dos passados divergentes, dos quais o mais intrigante é uma variação da II Guerra onde os mensageiros consegue unir nazis, soviéticos e aliados para combater extraterrestres. Um pormenor curioso da série é que os emissários do futuro não são poderosos. Quer mensageiros quer os seus inimigos dependem do nível de tecnologia da época para prosseguir a sua luta, se bem que esse nível pode ser acelerado. Para lá das batalhas o verdadeiro combate é perceber quem numa determinada linha de tempo desenvolve mais depressa a sua tecnologia e assim garantir hegemonia.

Nesta narrativa empolgante o tempo vai-se fragmentando na luta pela sobrevivência da humanidade. Ogawa nunca nos revela a origem dos alienígenas, e o leitor mais atento poderá intuir que talvez não sejam de todo alienígenas, talvez sejam outros mensageiros de outros futuros que à sua maneira lutam para salvar a humanidade.

Esta é talvez a constante dos títulos de ficção científica publicados pela Haikasoru. Nenhum deles se dá o trabalho de ser conclusivo. A explicação final, a última peça do puzzle que irá dar sentido e explicar toda a narrativa, é algo que estes autores não estão interessados em fornecer. É algo que parece impensável numa obra ocidental, com o nosso gosto pelo arrumar de todas as pontas soltas. É também curioso notar que estes finais abertos não surgem intencionalmente como parte de narrativas episódicas que se estendem por vários livros, se bem que haja espaço para que isso aconteça. Estas obras são ao mesmo tempo estanques e abertas, auto-contidas mas com espaço suficiente para despertar novas histórias no universo ficcional. Talvez, e aqui estou obviamente a especular, esta inconclusividade seja algo que faz parte do carácter da cultura a que pertencem estes autores. Esta ficção científica comporta-se como os fantasmas japoneses, que não podem ser exorcizados e arrumados a um canto como no gosto ocidental e estão condenados a repetirem eternamente as suas acções.