sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Comics


2000 AD #1850: Numa publicação com um historial tão longo como esta há sempre altos e baixos. As edições mais recentes pareciam particularmente em baixo de forma, com linhas narrativas pouco interessantes e ilustração desinspirada. Nem Dredd, pedra basilar da revista, se safava. Nem sequer o popular Slaine, o bárbaro escocês com problemas de género que apesar da ironia de Pat Mills nunca me cativou. Sword and Sorcery raramente despertam alertas no meu radar. A última edição sofreu uma limpeza geral, notando-se perfeitamente que a conclusão dos diferentes arcos narrativos que compunham a revista foi apressada para dar lugar a algo de novo. E parece ter funcionado. Esta renovação traz-nos Dredd com uma nova e sólida aventura com candidatos a juízes (porque, enfim, 2000 AD sem Dredd é impensável), Damnation Station se não convence pela história deslumbra pela ilustração (saiu de lá a imagem). E... para terminar em beleza, a despertar um sorriso aos fãs das ficções a vapor, o clockpunk de Ian Edginton e INJ Culbard. Brass Sun está de regresso, levando-nos de volta aos mundos que compõem o gigantesco planetário mecânico deste mundo ficcional.


Batman #23.3: Depois do inevitável crossover de verão, a DC deu descanso aos artistas e argumentistas do alinhamento principal e brindou-nos com um mês dedicado aos vilões. Os heróis andam misteriosamente desaparecidos e o seu lugar foi tomado pelos super-vilões. Ou não muito misteriosamente, se leram o crossover Trinity War. Eu não li. A minha paciência para ler estes arcos narrativos enredados ao longo de todo o universo para vender mais comics já se esgotou nos tempos do Invasion. Sim, há assim tanto tempo. É só um mês, e a seguir volta tudo ao normal, se bem que com DiDio aos comandos "normal" é metáfora simpática para desastre. Apesar das tropelias que o universo DC anda a sofrer, este Batman, digo, Penguin está muito bem escrito. O argumentista não se restringe para traçar um retrato do personagem como amante implacável da violência e a ilustração segue à risca o ambiente narrativo com um curioso toque realista aplicado ao Pinguim, que de vilão caricatural se torna num seboso gorducho baixinho com nariz ponteagudo e um apetite insaciável por poder.


Justice League #23.3: Na mesma sequência a Liga da Justiça é substituída por uma história muito insana de China Miéville, que leva a sua revisão surreal de Dial H para as páginas de uma das âncoras da DC. Desta vez o mostrador está preso no E, o que significa que o discar dá origem a um novo e bizarro vilão. Nestas histórias disca-se muitas vezes. A sublinhar a surrealidade de Miéville está a ilustração, em que a cada prancha corresponde um diferente ilustrador. Esta edição da Justice League vai ficar para a história dos comics como objecto de colecção.


Kiss Me Satan #01: Porque há mais vida para além de B.P.R.D. e das milhentas séries Star Wars, a Dark Horse lança uma nova mini-série que mistura as premissas mais batidas do terror na cultura popular contemporânea: demónios, vampiros, lobisomens, anjos e bruxas. Todos à solta na cidade de Nova Orleães, só para sublinhar a iconografia de horror. Parece-me que os vampiros não brilham nem no escuro nem ao sol, o que à partida é um ponto positivo. A história toca no também batido ambiente grimdark, desta vez com um anjo caído arrependido que anda em fuga de esquadrões de demónios assassinos enquanto aceita missões vindas da divindade para ganhar o perdão. Nesta missão tem de proteger bruxas videntes de bandos de lobisomens criminosos que as querem estraçalhar para proteger o segredo do macho-alfa, ou lobisomem-alfa. Entendem-me, certo? O líder da matilha. Nada de inesperado ou particularmente criativo, mas no entanto esta primeira edição manteve o interesse do princípio ao fim. A escrita é sólida e bem ritmada com ilustração realista a dar bom acompanhamento. Contra as previsões, esta série parece promissora. Assume-se como um baralhar e voltar a dar das premissas mais banalizadas do terror, mas está a fazê-lo muito bem.


Numbercruncher #03: Eis deus, ou como Si Spurrier o caracteriza, o contabilista mor da grande repartição celestial. A história aproxima-se do seu final, mas continua imprevisível. A caça ao matemático capaz de enganar as regras do jogo das almas tornou-se um suplício repetitivo, mas o nosso pouco simpático agente celestial começa a perceber que a sua presa vai criando pequenas alterações no real a cada nova encarnação. Parecem pequenas, gestos mínimos, mas alterações diminutas em grandes equações podem gerar resultados imprevisíveis. Suspeito que a conclusão de Numbercruncher irá ser daquelas que provoca curtos-circuitos neuronais.