quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Azure



Daniel Govar (2012). Azure. Zuda Comics/DC.

A história progride em solavancos desconexos mas a ilustração é memorável e compensa as falhas narrativas. Azure é uma fábula pós-apocalíptica em que o mundo fica submerso após uma série de catástrofes prenunciadas pelo apocalipse maia. Pois, eu sei. O famoso final do mundo de 2012 é ideia ridícula e batida, mas tenham paciência. A acumulação de desastres que assola o mundo faz pouco sentido mas o que interessa é que um grupo de cientistas com recursos ilimitados se preparou para sobreviver ao final dos tempos e agora, décadas depois do apocalipse, a terra é um planeta oceânico vigiado pelos cientistas que patrulham os vastos oceanos em busca de sobreviventes ou mutações genéticas a eliminar com extremo prejuízo.

Obviamente, os cientistas sobreviventes são jovens raparigas atléticas e sensuais. Obviamente, porque a lógica dos comics assim o dita. A trama vai-se adensando à medida que o comic progride. A heroína sobrevivente acaba por descobrir que não já não é humana. Faleceu nos primeiros momentos das catástrofes e a sua consciência foi descarregada para um simulacro andróide. Afinal a humanidade não está tão extinta quanto isso e começa a organizar-se em impérios navais, reciclando as frotas de navios de guerra das marinhas das nações agora submersas. Naturalmente há rivalidades com os cientistas sobreviventes, que fundaram uma cidade flutuante apelidada inventivamente de Avalon, que dá um toque de lenda arturiana a Azure. Naturalmente, temos combates entre navios de guerra tripulados por bárbaros sobreviventes e mechas comandados pela clade científica. Naturalmente, há segredos, bases ocultas no fundo do mar e intrigas palacianas. Nota-se que a narrativa de Azure não foi traçada linearmente, e vai crescendo organicamente de edição em edição.



O comic destaca-se pela ilustração, com algumas cenas perfeitamente evocativas da ficção científica mais transhumanista e singularitária. Impressiona particularmente o conjunto de cenas em que a protagonista descobre um viveiro de andróides prontos a receber consciências humanas.

Delineado à medida que vai sendo editado, Azure destaca-se por ilustrações evocativas e um argumento que apesar de desconexo vai criando um plausível mundo ficcional. Uma interessante descoberta, disponível no Comixology.