terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Vida Virtual


Até que ponto o uso da internet se entrosou nas nossas vidas? Nem reparamos, já não nos lembramos de um tempo em que a rapidez e conveniência no que apelidamos acesso à informação mas na realidade se tornou uma espécie de segunda vida, um enorme cérebro portátil onde sabemos que podemos encontrar aqueles pedaços de informação de que necessitamos. Essa habituação fica patente nas respostas de alunos de nono ano aos quais perguntei como imaginariam a vida na internet. As visões são intrigantes. Espelham a cultura contemporânea e visões de futuro que respiram utopias com um toque de cautela humanista. Não editei as respostas, mantendo os erros ortográficos.

"Um mundo que podemos viver na Internet seria ótimo. Imaginemos que estou atrasado para uma reunião que eu tenha de dar um trabalho, se viver num mundo da Internet basta colocar na testa por exemplo um fio ou mesmo ter uns óculos onde poderíamos ver tudo que um computador tem e enviarmos o trabalho. Modo de vida, isto é, eu levantava-me e bastava colocar os óculos e pensar no que queria e dava para ver através das prateleiras ou paredes ... Comunicávamos com as pessoas sem telemóvel e clicávamos num botão e a pessoa com quem estávamos a falar via o que mostrava." Quase me atrevo a perguntar... nesta utopia de conveniência, ainda precisaremos de corpo?

"podiamos fazer de tudo. podiamos atraves de um computador mudar uma cama para outro sitio so com o rato do computador. Comprar objectos e eles virem diretamente ter a minha casa no proprio momento da compra" O frasear é pueril, mas é este o princípio por detrás do e-comércio.

"A internet podera estar em todo o lado nas paragens de autocarro nos cafes e em tudo." Ubiquidade de conectividade. O futuro digital não pode ter zonas escuras.

"o mundo ficara muito dependende da internet, um exemplo é que para ligarmonos á internet temos de ter energia no cumputador e se a energia faltar o mundo ficará "á noura" o que sera um ponto negativo" Bom ponto de vista, a recordar que as mais elegantes tecnologias dependem de energia. A curta Lost Memories mostra o que poderá acontecer num futuro próximo em que as nossas memórias estão guardadas numa nuvem que pode desaparecer no éter electromagnético.

"Viver na Internet é um progresso tecnológico acelerado e é transcender o corpo através de próteses cibernéticas e digitalização da mente." Ou, como diria Kurzweil, a singularidade está próxima.

"Com o os dispositivos de interface cerebrais ou até com os óculos de realidade aumentada a internet poderá acompanhar-nos para todo o lado,como um mundo virtual á nossa volta que podemos controlar e navegar."

"Se vivesse-mos no mundo da Internet seria um mundo digital, podíamos viajar onde quisesse-mos como para um computador no outro lado do mundo. Se por acaso nos morresse-mos voltava-mos a ter vidas e mais vidas, logo era-mos imortais. Criava-mo-nos como quisesse-mos, e podia-mos alterar-nos sempre que quisesse-mos. Seria uma vida na qual não tinha interesse nenhum nem havia sentimentos para qual conseguisse-mos rir, chorar e todos os outros sentimentos." Uma visão interessante, que aponta para preocupações de despersonalização e desumanização trazidas pelo digital.

"nesse mundo podemos estar em vários sitios ao mesmo tempo, dar abraços e beijos atravez de uma camara 3D na internet. ia dizer que poderiamos fazer os testes pela internet, mas isso não é o futuro é o presente." Pois, porque o professor está sobrecarregado e não está para andar a acartar com quilos de papel.

"No futuro, acredito que o ser humano, poderá viver num mundo virtual e real ao mesmo tempo. Por exemplo: no real tem a sua família e os seus amigos, e no virtual o seu momento de lazer: jogos, vídeos, filmes...em que o ser humano vai entrar nestes. Eu diria, que não estamos muito longe dessa realidade. Hoje em dia, o tele-trabalho é cada vez mais adoptado, e para isso em muito contribuiu a evolução da internet. Também já é possível ter formação, e mesmo educação superior, através da internet, processo a que se dá o nome de eLearning. De igual modo, hoje já é possível comprar praticamente qualquer coisa (de comida a roupa, passando por livros ou mesmo carros) através da internet. As relações virtuais, através das redes sociais, estão também cada vez mais na moda. Algumas empresas de serviços apostam também cada vez mais nesta realidade, nomeadamente os bancos, as seguradoras, e as empresas de telecomunicações. No nosso dia a dia, cada vez mais dispositivos estão ligados à internet, nomeadamente os telemóveis e as televisões, permitindo-nos estar praticamente sempre ligados, e usufruir de todos os serviços que referi." Convergências, tendências, o que está para vir no fundo já hoje está a ser desenvolvido e aplicado. O futuro existe, está é desigualmente distribuído, como observou William Gibson.

"Na Internet, o tipo de pessoas e um bocado parecido com o mundo real, a pessoas falsas, há pessoas que se queixam de tudo, etc....os mundos seriam muito confusos,misteriosos e perigosos.O modo de vida,cada vida e inventada para cada um,para mim acho que seria o mesmo." Porque no fundo somos humanos. Por muito que as próteses tecnológicas o disfarcem, as pulsões que nos movem são as mesmas que nos caracterizaram nas savanas africanas há milénios atrás.

"Imaginando a vida de um aluno daqui a 20 anos... Depois de acordar e tomar banho, olha para o relógio computador e compra o que quer para o pequeno almoço na internet. Não precisa de sair de casa para ir para as aulas porque a escola funciona online (os testes, as aulas). As informações não serão recolhidas numa biblioteca mas totalmente na internet. As apresentações de trabalhos serão feitas por vídeo conferência e a turma pode não ser composta apenas por pessoas da zona onde ele vive mas por gente de todo o mundo (graças ao tradutores simultâneos na internet). Vai jogar na internet, sem ser necessário sair de casa, vai conversar com os amigos na internet e estar permanentemente em rede. Vai jantar ao pé dos pais mas conversar com eles ligado em rede. A sociedade vai acabar por se isolar mais (até podemos conhecer mais gente mas interagimos menos ao vivo com elas). fechar ou abrir portas vai ser tarefa fácil usando o computador. O mundo como o conhecemos vai passar a ser verdadeiramente global: a internet alarga horizontes, uma vez que elimina fronteiras. Vamos estar rodeados e ser comandados por máquinas, que nos vão roubar empregos e também privacidade, em favor da comodidade." Conveniências, mas também sociedade panopticon e transformações económicas. Já hoje as sentimos, sempre que uma câmara de videovigilância nos contempla ou um posto de trabalho é substituído por automação.

"No mundo em que vivemos estamos perante uma aldeia global pois tudo o que se passa em qualquer parte da terra é possivel ser vista em tempo real em todo o lado. Desta forma se fosse possivel vicermos na internet formar-se -ia (tal como está a acontecer) uma identidade e cultura universal que iria juntar toda a diversidade de todo o planeta, juntando as diferentes formas de pensar e as tradições." A aldeia global de McLuhan, electrizada pelos bits que correm a velocidades sub-lumínicas nos intensos emaranhados de cabos que cobrem o planeta. À velocidade da luz as ideias locais tornam-se globais.

"Num universo paralelo, onde a internet seria a nossa fonte de energia vital e seriamos feitos de dados, o mundo seria assim: nunca chegariamos atrasados a lugares alguns pois teriamos um meio de teletransporte; poderiamos estar em vários sitios ao mesmo tempo; podiamos aceder ás redes sociais atraves da mente; nunca nos magoariamos; nunca sentiamos sede, fome, frio ou cansaço; não teriamos de vir ás aulas aprender coisas inuteis, bastaria por uns óculos ou algo que nos faça entender tudo metalmente e rapidamente; a paisagem seria sobrenatural com predios surreais, estradas e iphones que transmitiam hologramas á velocidade da luz." Utopias aguardam-nos ao virar da esquina.

"Tenho uma imaginação muito reduzida mas era giro stor, não era? Viver no FarmVile do facebook ahahah." Ah! O horror! O horror! Uma vida virtual entre o estrume digital. O horror!