sábado, 14 de abril de 2012

Japanese Tales of Mistery and Imagination


Edogawa Ranpo (1956). Japanese Tales of Mistery and Imagination. Rutland: Tuttle.

O escritor japonês Hirai Tarō inspirou-se em Edgar Allan Poe para o seu pseudónimo, Edogawa Ranpo. Não é só no nome adoptado que se notam as influências. O estilo e a estranheza dos contos deste Japanese Tales of Mistery and Imagination parecem decalcados de alguns dos melhores contos do autor norte-americano. O que não significa que sejam cópias. São antes uma mistura muito sublime de carácter nipónico e estilo literário ocidental.

Os nove contos deste livro caracterizam-se por uma construção rigorosa que deixa o inesperado para os últimos parágrafos, o que não é tarefa fácil se atendermos aos mistérios que lhes dão origem. Há nesta obra uma preocupação com o crime perfeito, com laivos de Raskolnikov mas sem torturas morais, mas essencialmente este é um livro de estranha sensibilidade. Obsessão - quer com o acto de assassinar, quer com estilos de vida, quer com monomanias pessoais, é a pedra de toque destes contos. Os temas são surreais: temos um conto sobre um homem que se esconde dentro de um sofá para sentir o toque de mulheres (que o autor desmonta brilhantemente em duas frases no final); um assassino que é apanhado por ser demasiado cuidadoso ao prever os pormenores da investigação; uma mulher que cuida de um marido inválido de guerra, desfigurado, incapaz de falar e amputado de braços e pernas; uma mulher que consegue causar a morte a dois maridos manipulando perfeitamente os acasos; um homem tão fascinado por telescópios e espelhos que enlouquece dentro de um espelho esférico; um assassino que toma literalmente o lugar do seu irmão gémeo; um conto de arrepiar em que o poder de poucas palavras é uma arma fatal (outro que o autor desmonta brilhantemente no parágrafo final); um velho que descobre que o trauma que lhe paralisou a vida não passou de uma ilusão bem orquestrada; e, finalizando, um momento surreal sobre um apaixonado que se embrenha literalmente na figura da mulher amada e acaba como uma imagem num quadro.

Oscilando entre o horror delicado e o mistério puro, estes nove surpreendentes contos mostram a obra de um mestre deste género literário, que apesar da confessa influência de Poe tem uma voz muito pessoal, estranha, bizarra, onde a sensibilidade nipónica se mescla com a técnica literária ocidental. Um autor a descobrir.