sábado, 18 de fevereiro de 2012

Doomsday Book


Connie Willis (1994). Doomsday Book. Nova Iorque: Bantam Books.

Um leitor inveterado ganha defesas, e começam a ser raros os livros que não deixam parar a leitura. Curiosamente, esta é uma dessas obras que tem esse condão, de agarrar o leitor e não deixar de virar páginas até à sua conclusão. O que é um pouco estranho, porque esta não é uma obra de grandes ideias ou emoções. As realidades intricadas imaginadas por Connie Willis vivem muito do banal, da interferência das rotinas do dia a dia nas acções dos personagens. E talvez seja essa normalidade, esse convicente retrato de vidas futuras e passadas, que dá verosimilhança a este livro.

Doomsday Book vive de duas narrativas, intimamente entrelaçadas: um século XXI onde as viagens no tempo são possíveis e que se vê a braços com uma epidemia de gripe viral, e o século XII da peste negra. Mais do que as acções dos personagens, o viajar no tempo, é a intemporalidade das doenças que liga as narrativas. Quer o século XII quer o XXI lutam, com as armas que têm, contra pandemias mortais. A diferença está no fatalismo com que olhamos para um passado onde o registo histórico narra a mortandade, o que não impede uma das personagens, arqueóloga dedicada que por um erro de cálculo se vê num epicentro de peste, de tentar ineficazmente salvar as vidas de pessoas que eram meros objectos de estudo mas a quem acaba por se afeiçoar. É o que se denomina por going native.

O fatalismo do século XII é espelhado pela mesquinhez do século XXI, onde responsáveis académicos não hesitam em colocar vidas em perigo apenas para engrandecer a sua carreira e as piores pandemias não afectam as picuinhices individuais. É deste confronto com a banalidade e de descrições verosímeis dos espaços e vivências do século XII que vive este livro singular.