sábado, 13 de agosto de 2011

Rule 34


Charles Stross (2011). Rule 34. Londres: Orbit Books.

Regra 34: é um dos clássicos da internet. Se algo existe... alguém usa para pornografia. Apesar desta premissa, Rule 34 não é um romance que nos leve a hipotéticos paraísos tecno-carnais futuros. Antes, é uma convoluta história que serve essencialmente de infodump para as ruminações pós-cyberpunk do autor. Vale é que as ideias de Stross valem a pena ser lidas. O que salva o romance é o interesse das especulações e a capacidade do autor em projectar impactos sociais de visões futuras da tecnologia que hoje utilizamos ou está em desenvolvimento activo em laboratórios por esse mundo fora.

Stross mergulha-nos numa conspiração que tem como rostos uma detectiva escocesa que se vê a investigar uma série de crimes violentos que têm em comum uma natureza sexual desviante, a sua semi-namorada, executiva com funções de auditoria a boas práticas económicas e sociais das corporações, um hacker não muito eficaz que encontra um emprego como consul honorário de uma república asiática, um operacional de um cartel criminoso que se desloca a Edimburgo para implementar um esquema económico ilegal, e o responsável pelas forças de segurança do Kazaquistão, que coloca em marcha um intricado plano para livrar o país de dívidas que envolve a secessão temporária de uma província (junto com as dívidas a investidores) que será reincorporada após um período de instabilidade. À mistura encontramos nano-assemblagem de autómatos para pedófilos, utilizações pouco usuais de utensílios domésticos, uma visão do crime enquanto actividade económica e esquemas financeiros mirabolantes.

Estas linhas narrativas entram em colisão graças à orquestração de uma entidade externa, que só é revelada no finalizar do livro: uma inteligência artificial semi-inteligente criada para combater spam utilizando algoritmos sociais que se serve destes personagens e das suas interrelações para eliminar uma organização criminosa obscura.

Tudo isto se passa num futuro próximo pós apocalipse económico em que esquemas políticos são utilizados para eliminar dívida pública, a sociedade panopticon está instalada através de uma vigilância ubíqua por câmaras de vídeo, localização através da rede, drones e algoritmos avançados, e as antigas regras de actuação já não se aplicam. É uma transposição exagerada do mundo contemporâneo em que vivemos, ampliada pela imaginação fértil e bem informada de Stross.