terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Hicksville



Dylan Horrocks (2010). Hicksville. Montreal: Drawn and Quarterly.

Hicksville Comics

É muito fácil apaixonarmo-nos por um livro destes. Hicksville é mais do que uma história de banda desenhada, é uma elegia ao amor pelos comics, que como o autor coloca na brilhante introdução (só essas páginas já fazem valer o livro), são janelas para outros mundos que despertam a imaginação e a vontade de explorar o que está para lá dos limites da vinheta.

Hicksville é uma aldeia ficcional neo-zelandesa, onde chega um jornalista americano em busca da história de vida de Dick Burguer, o mais bem sucedido criador de comics contemporâneos, editor dos maiores sucessos mas detestado na sua terra de origem. Enquanto se tenta integrar na peculiar vila da Nova Zelândia, acaba por descobrir um mundo que deve algo às bibliotecas de Jorge Luís Borges, uma localidade onde a vida dos habitantes gira à volta da banda desenhada e cujo farol contém um arquivo de todos os comics jamais publicados: os sonhos, as obras-primas de argumentistas e desenhadores que nunca foram impressos por não respeitarem as vontades do mercado, os gostos dos editores ou as convenções dos fãs.

O livro é enganadoramente linear. Enquanto a história das conquistas de Dick Burguer se desenrola, numa clara crítica ao establishment das grande editoras comerciais e as suas edições repetitivas, o autor mergulha-nos numa variedade de estilos enquanto analisa a vida das principais personagens. O resultado é uma surpreendente e coerente colagem estilística que homenageia as principais tendências da banda desenhada, do cartoon ao manga, sem esquecer a ligne claire franco-belga e o género mais mediático do comic de super-heróis.

Intimista, esta banda desenhada transmite-nos o amor de um autor pelo género, renovando no leitor a magia das histórias aos quadradinhos.