terça-feira, 9 de novembro de 2010

Just After Sunset



Stephen King (2008). Just After Sunset. Nova Yorque: Scribner.

Google Books | Just After Sunset

Stephen King é um daqueles meus prazeres envergonhados. Embora reconheça nele a mestria de um autor monumental do horror contemporâneo, boa parte das suas obras parecem-me artificialmente engordadas, por vezes marcadas por uma vulgaridade literária nas suas linhas e linguagem. Reconhecendo a capacidade, espelhada na sua popularidade, desagrada-me a sua falta de elegância. É demasiado massificado, por vezes banalizante, para o meu gosto, mas vejo-me a regressar vezes sem conta à sua obra incontornável. Talvez pela solidez da sua técnica. Por banal ou genial que seja a sua prosa (e oscila sempre entre estas duas fronteiras, na minha opinião), ela é marcada por uma técnica de escrita irrepreensível, marcante e com uma capacidade rara de nos agarrar à leitura. Mesmo que depois esta nos saiba a fast food literário.

Just After Sunset é uma colectânea de contos que sublinha bem esta minha sensação sobre o escritor. Alguns são profundamente banais, escritos a metro, outros pequenas pérolas do conto de terror. Neste livro encontramos histórias superficiais e outras que nos tocam profundamente, demonstrado a enorme capacidade literária de King quando este sente que o público para o qual escreve é capaz de empatizar com as palavras, não estando a ler apenas para passar o tempo. Subjacente a todos os contos está a técnica de escrita implacável que consegue levar-nos da premissa até à conclusão em poucas páginas, tarefa que muitos hoje consideram ser uma arte em extinção.

Pessoalmente, destaco nesta obra os contos Willa, subtil história sobre o enfrentar da morte, N., inspirado na obra O Grande Deus Pã de Arthur Machen e que nos mergulha num mundo interior psicótico em que o horror pode ser real ou ser apenas o produto de imaginações contagiosas (a Marvel Comics publicou recentemente uma belíssima adaptação deste conto com um nível gráfico raro na editora), e a fortemente intimista The New York Times at Special Bargain Rates. Os restantes contos lêem-se, mas como o próprio King assume no seu prefácio, se servirem apenas para deixar fluir um momento que de outra forma seria entediante, onde está o mal nisso?