A popularidade do Facebook, agora imortalizado no celulóide, está a fazer-me pensar em qual será o próximo ponto de interesse da internet. Já uso o Facebook desde 2006, e fiquei pasmado com a verdadeira explosão do site no final de 2008. Agora, no final de 2010, começo a sentir um certo cansaço. Os posts começam a diminuir, exceptuando aqueles que apregoam o sucesso dos utilizadores nos inúmeros jogos que se revelaram a killer app do site. Pode estar na crista da onda, mas começa a notar-se que a onda está a começar a afastar-se do Facebook. Não é uma novidade: os blogs tiveram uma curva de sino similar, desde um início lento a um momento em que todos tinha blogs até ao momento contemporâneo em que a maior parte dos blogs foi esquecida e só alguns se dão ao trabalho de manter viva a blogoesfera... apesar de, paradoxalmente ou talvez por causa dessa tenacidade, esta se ter afirmado como uma voz mediática independente.
Qual será o próximo vício online? Os mundos virtuais 3D, depois do hype do Second Life, continuam como a eterna promessa não cumprida. O Chatroullette teve algum protagonismo, embora muito efémero. Neste momento, o site mais influente da internet não é a rede social ou outros sites web 2.0. mas sim uma humilde messageboard que dá pelo nome de 4Chan. Iniciada por Christopher Poole - aka moot, recente convidado do TED, começou por ser uma messageboard dedicada à troca de imagens de anime inspirada em congéneres japonesas.
Um pequeno detalhe distingue o 4Chan dos restantes sites similares: o anonimato. Postar no 4Chan não requer qualquer login. Qualquer um, anonimamente, pode postar uma mensagem a partilhar o que lhe vier na cabeça. O resultado pode ser consultado na infame /b/ board do 4Chan, cuja influência na cultura online é enorme. Talvez uma verdadeira fossa séptica da internet, a /b/ é caracterizada por posts anónimos e flame wars sem qualquer contenção. E como é que é influente? A comunidade totalmente anónima do /b/ é conhecida por sempre que lhe apetece, ou a atenção é despertada, reagir em massa contra sites e indivíduos. Posts a combinar DOS e mass floods são comuns, mensagens insultuosas são o habitual, e quando os membros do /b/ olham para outros horizontes... temos iniciativas como a manipulação da votação online sobre o próximo destino do concerto de um cantor adolescente americano, particularmente odiado pela comunidade (graças aos /b/, a coisa deu em Coreia do Norte, esse paraíso da música pop), o irreverente meme pedobear (um ursinho simpático que satiriza violentamente a pedofilia) e outras iniciativas de hactivismo totalmente anárquico e violento que de vez em quando chegam aos mass media. Se lerem alguma notícia sobre uma partida de bom ou mau gosto que explodiu na internet, podem ter a certeza que os destravados anónimos do /b/ estiveram por detrás.
Esperemos que sites como o /b/ não se tornem a next best thing na internet. Talvez a próxima onda seja a da mobilidade e apps em pads e smartphones. Pessoalmente, dou por mim a ligar cada vez menos ao Facebook e a ligar cada vez mais ao Whitechapel, uma comunidade reunida à volta do escritor Warren Ellis que se dedica a discutir arte, comics, música, literatura e ideias underground. Talvez seja esse o futuro - nichos de interesse comum em detrimento de generalidades.
Rheingold percebeu muito cedo qual seria a verdadeira utilidade da Internet. Não como meio de comunicação, quer interpessoal quer como new media, ou gargantuesca biblioteca digital. Ao descrever a história do WELL, percebeu no início dos anos 90 que o principal valor da internet estava na capacidade de construção de comunidades. Mais do que comunicativa, é comunitária, e é isso que nos mergulha cada vez mais no mundo online.