segunda-feira, 8 de março de 2010

Projectos Vertex/Fathom

Desenvolvido a partir de 2001, este foi um projecto de construção de ambientes virtuais por crianças de três escolas primarias britânicas ( Soho Primary e Oakthorpe, Londres, Firth Primary, Orkney). Partindo de uma abordagem construcionista, utilizou o mundo virtual Active Worlds como plataforma de publicação e o software 3D Studio como programa de modelação 3D. O projecto envolveu fases de planeamento, integrando actividades com conteúdos curriculares; introdução ao Active Worlds como experiência de exploração de mundos virtuais; criação de avatares, objectos tridimensionais e espaços virtuais recorrendo a actividades de expressão literária (descrição dos ambientes), expressão plástica (desenho e pintura de avatares articulados, esboço de mapas dos espaços virtuais) e trabalho no computador (transposição das imagens desenhadas para o computador, modelação 3D).

Nas suas conclusões preliminares foram apontadas as seguintes vertentes : a criação de espaços virtuais é viável como núcleo de actividades para um projecto de turma, fazendo ponte entre TIC e outras áreas de conhecimento; o contar histórias pode servir como ponto de partida para pensamento criativo sobre o projecto; trabalhar em conjunto desenvolve potencial social e colaborativo (resolução de problemas, partilha de capacidades, necessidade de colaboração); efeitos positivos em crianças com Necessidades Educativas Especiais, particularmente no trabalho em pequenos grupos, exploração e resiliência. Como entrave foi apontada a complexidade do software escolhido para o projecto.

Em 2004 os princípios desenvolvidos no âmbito do projecto Vertex foram aplicados no Fathom, continuando o trabalho desenvolvido. Neste novo projecto foi substituído o software de modelação 3D para o Anima8or, de mais simples utilização, e o modelo de trabalho foi modificado. Este projecto foi desenvolvido entre a escola Millenium Primary (Greenwich) e o National Maritime Museum, dando um tema específico aos mundos virtuais desenvolvidos pelos alunos. Moar e Bailey sublinharam a integração curricular de projectos e a exploração das capacidades de modelação 3D das crianças. Apontaram dificuldades na importação de texturas, deformação de malhas poligonais e alinhamento de formas em espaço 3D, infraestrutura tecnológica e falta de capacidades e conhecimentos de modelação 3D nos professores. Sobre esta ultima dificuldade observam que “digital imaging, video and sound editing, multimedia authoring and even word processing were once activities carried out by a small number of specialists, but are now being undertaken in schools. As computer processing speed increases and interfaces are refined, it is likely that 3D modeling skills will extend to a wider population and that 3D world building will become a practical proposition in many primary classrooms” (2004, p:6).

Colocando ferramentas de modelação tridimensional nas mãos de crianças, estes projectos mostraram a viabilidade da construção de mundos virtuais como actividade integrada com conteúdos curriculares multidisciplinares.

Fathom
Vertex

Similaridades com o meu trabalho: colocar alunos a explorar mundos virtuais; desenvolver actividades de modelação 3D (3DS e Anima8or nos Vertex/Fathom, Bryce, Sketchup, DoGA, Avatar Studio e Vivaty Studio no meu caso); estimular a criação de espaços virtuais pelas crianças; problemáticas sentidas de organização espacial e disponibilidade de equipamentos; resultados dos processos de trabalho, interesse demonstrado pelos alunos e curvas de aprendizagem mostradas pelas crianças no domínio de aplicações complexas, integração com conteúdos e competências (mais abrangente do caso dos Vertex/Fathom, restrito a uma área disciplinar no meu caso). Dilatação temporal: estes estudos datam de 2002/2004, o meu está a ser desenvolvido em 2009/2010. Implica mais e melhores ferramentas de modelação, com interfaces mais acessíveis; maior desenvolvimento da internet como comunidade de partilha (troca de ficheiros, experiências, sugestões de trabalho e aplicações). No entanto está por cumprir a reflexão de Moar no final do artigo sobre o projecto Fathom. Mesmo com computadores mais rápidos, melhores e mais simples ferramentas, são poucos os professores que dominam capacidades de modelação 3D, mesmo entre os das áreas artísticas. Partilhas informais com comunidade de docentes mostram: desconhecimento dos potenciais do 3D (e VRML/X3D ainda pior, totalmente desconhecido), fascínio pelos resultados obtidos, mesmo os que utilizam recursos mais primitivos, pouca vontade de explorar submissa a condicionantes de medo perante a complexidade; ausência de visão de integração entre actividades deste género e aprendizagem de conteúdos disciplinares. Talvez subjacentes estejam ideias que desvalorizam o próprio computador como ferramenta de expressão: uma ideia do trabalho manual de desenho, pintura, modelação como sério, válido, autêntico que se contrapõe a uma visão do trabalho desenvolvido no computador como simplista, falso, visão do computador não como ferramenta mas como máquina de poderes quase mágicos que anula a necessidade de criatividade e desenvolvimento de competências técnicas, substituindo-as por cliques de rato que realizam milagres estéticos. Os que dominam raramente fazem a ponte entre os seus conhecimentos e as aprendizagens a despertar nos alunos. Porque razão? Falta de equipamentos (é um factor verídico), apego às técnicas e meios de expressão clássicos, uma ideia de 3d como de complexidade demasiado elevada para nível etário dos alunos?