Depois do lançamento do iPad a adobe reagiu depressa à falta de capacidade de leitura de ficheiros flash na slate da apple. O flash é hoje uma tecnologia indispensável na web para jogos, media e aplicações. O post no Flash Blog é bem elucidativo: sem flash, não há vídeos online, multimedia integrado, aplicações e jogos (se bem que erro de carregamento no farmville seria uma benesse para a humanidade).
Mas em breve o flash poderá deixar de ser uma tecnologia importante. O cada vez mais próximo arranque da norma HTML 5 promete uma revolução na forma como utilizamos o multimédia na internet. No video, por exemplo, o YouTube e o Vimeo já estão a testar as capacidades multimédia do HTML 5, que aceita ficheiros de video sem que seja necessário um visualizador dedicado. Essa tarefa ficará a cargo do browser, desenhado de acordo com a norma HTML 5, sem necessidade de plugins. Os nerds do Gizmodo explicam muito bem alguns dos potenciais do HTML 5.
Pessoalmente, estou interessando no potencial de abertura do campo da Web 3D: até à incipiência do HTML 5, interagir e visualizar VRML era (e é) uma coisa complicada: ou é necessário um browser dedicado, ou um dos muitos plugins disponíveis (O Cortona e o BS Contact são os mais abrangentes). Os plugins nem sempre são compatíveis, há ficheiros vrml que abrem bem com um e dão erro noutros, e estão limitados a um ou dois browsers. O resultado é uma experiência dolorosa, em que nada funciona sem problemas. Esta inacessibilidade contribui para deixar o VRML, tecnologia de realidade virtual com um potencial enorme na visualização de dados, engenharia, arquitectura, entretenimento e educação (isto listando apenas aqueles campos que no momento me vêem à cabeça) quase totalmente esquecida. O VRML é uma daquelas promessas eternamente por cumprir: há muita coisa bem feita nesta linguagem mas não chega ao grande público. Vejam, por exemplo, o trabalho do Human Computer Interaction Lab da Universidade de Udine, a plataforma de e-aprendizagem ALIVE ou o agregador de mundos virtuais VRMLWorld. Certamente que na maior parte dos casos, quem ler este post e se arriscar a seguir estas ligações (bem interessantes, asseguro-vos) vai apenas conseguir ver algumas imagens estáticas - sem plugin para vrml é impossível visualizar e interagir com os objectos e mundos virtuais 3D disponíveis. Há alguma integração entre VRML/X3D e o Flash (a Vivaty trabalha nesse âmbito).
Falo em visualizar e interagir porque a Web3D assenta num princípio de interação com objectos e espaços tridimensionais. O VRML tem uma enorme vantagem sobre espaços dedicados como o Second Life, IMVU ou os já inúmeros MMORPGs: não requer a instalação de um cliente próprio, tem baixos requisitos de largura de banda e é acessível através de um browser (desde que tenha instalado um plugin compatível - normamente para o Internet Explorer, Chrome, Safari e Opera ficam de fora, para Firefox há um truque). Falta ao vrml algum realismo, mas é de notar que ao longo de dezasseis anos (a norma foi proposta originalmente em 1994) o desenvolvimento do VRML esteve a cargo de académicos, programadores individuais e pequenas empresas, sem que tenha havido o investimento no desenvolvimento de motores de jogo e renderização 3D que caracteriza a indústria dos jogos, onde mais se concretiza a promessa do 3D digital para todos.
O HTML 5 poderá mudar tudo isto. A norma VRML evoluiu, gerida pelo consórcio Web3D, para a norma X3D. Esta nova norma, mais avançada, aproveita as capacidades da linguagem XML e estende os nós que constituem a linguagem vrml (é o X de X3D). E integra-se na norma HTML 5 (tal como a SVG para gráficos escaláveis vectoriais). O que significa que um browser de acordo com a norma HTML 5 será capaz de apresentar conteúdo 3d em X3D nativamente, sem necessidade de plugins. Imaginem: um espaço 3D imersivo e navegável, a partir da janela do browser, verdadeiramente uma janela para o ciberespaço (ou metaverso, como preferirem). A promessa de integrar o 3D com a internet está cada vez mais próxima. O campo da web 3D vai explodir.