quarta-feira, 21 de outubro de 2009

As Artes Tecnológicas E A Rede Internet Em Portugal




Cruz, M., Pinto, J. (2009). As Artes Tecnológicas E A Rede Internet Em Portugal. Lisboa: Nova Vega.

Interact
Nova Vega | As Artes Tecnológicas E A Rede Internet Em Portugal

Organizado por Maria Teresa Cruz e José Gomes Pinto, este livro reúne um conjunto de reflexões sobre as novas formas de expressão artística recorrendo aos media digitais, traçando também um panorama desas formas de arte em Portugal.

Apresentação - José Miranda: foca a noção de rede enquadrando-a como forma de activismo artístico e cultural. Esclarece metodologias de recolha e análise de dados, observa momentos de intervenção - a divulgação online dos resultados do estudo e a criação da interact, revista online de cultura digital. Conceitos a reter: a importância das redes enquanto meio que permite inúmeras abordagens, com a consciência dos seus riscos e a necessidade de acção colectiva informada. "A hipótese geral de partida é a de que as redes tecnológicas não seu neutras, nem um mero suporte, para onde se transferem práticas do espaço construido historicamente, sem mutação apreciável. Antes de mais, as redes constituem um hipermeio, cujas potencialidades estão em aberto, presas de uma certa indecisão que apenas a prática colectiva pode configurar decisiamente. Assim, se as redes permitem pôr em contacto quase instantâneo espaços estanques e demasiado distantes, se possibilitam o teletrabalho e novas formas de comunicação, como no caso do correio electrónico, também possibilitam tendências contrárias - a vigilância generalizada, a imposição das culturas do centro capitalista sobre as culturas nacionais e locais, o meio de difusão de pornografia ou do terrorismo, etc. Somente a prática colectiva poderá levar a maximiar as melhores oportunidades. Mas para isso é preciso um domínio conceptual e técnico das próprias redes. A melhor maneira de nos defendermos dos efeitos perigosos das tecnologias é saber utilizá-las e compreendê-las. Hoje, mais do que nunca, é verdadeiro o dito de que se aprende fazendo, constituido a experimentação e o uso criativo um momento essencial do conhecer. Como hipótese subsidiária, partimos da ideia de que as culturas e realidades históricas poderão potenciar as oportunidades abertas pelas novas tecnologias da informação e das redes, minimizando os seus efeitos desestruturantes das culturas históricas, através da intervenção activa sobre as formas e os conteúdos da rede." (p: 8)

Primeira parte: state of the art das artes tecnológicas em portugal e a rede pt.

Contextualização Histórica das Artes Tecnológicas - Fernando Pereira: foca o desenvolvimento tecnológico dos media online, conjugando com práticas de aplicação artística. Revela-as como reduzidas e enquadradas em contextos específicos, denotando desinteresse do meio artístico português pelos novos media. A reter: arte digital enquanto "descendente directa das experimentações estéticas e plásticas levadas a cabo pela arte moderna e contemporânea" (p:15). Dificuldades de implmentação de artes digitais observadas enquanto curatoriais (como exibir, qual a relação da peça digital perante um público habituado a tipos muito específicos de interacção com obras de arte). Nota paradoxal: no meio portugês a discussão e reflexão sobre arte digital ultrapassa largamente a prática artística. Novos meios tecnológicos poderão facilitar a participação activa, bem como incentivos - prémios, redes de partilha ou centradas em sites especializados.

Arte e Interactividade - José Pinto: procurar definir interactividade, apesar dos seus contornos indefinidos. Cita Lev Manovich numa taxonomia de interactividades. Reflecte sobre génese do conceito, fora do campo artístico. "... o conceito de interactividade, quando aplicado ao domínio artístico, surge unicamente como uma metonímia do conceito de feedback em Cibernética" (p:19). Arte interactiva: necessita e é um interface. Altera a relação com o espectador, transformando-o em actor. Experiência estética dependente do espectador e do suporte tecnológico. Participação do espectador é noção já presente noutros movimentos artísticos, mas arte interactiva implica equilíbrio de fluxos entre criador, que programa percursos, espectador, que ao interagir os altera e manipula em direcções que podem ultrapassar as definidas pelo criador.

Hibridação - Margarida Carvalho: foca o conceito de híbrido. Conceito que ganha importância em contextos sociais, económicos, políticos e artísticos, assumindo-se como conceito trasnversal. Vindo de hubris, híbrido representa na raiz um desfazer construtivo. O seu âmbito alargado refere-se a "qualquer entidade composta por elementos provenientes de múltiplas fontes" (p: 24). Hibridização nas artes tecnológicas: permanente manipulação e metamorfose. Conceito de hibridação enquanto reunião numa peça de arte digital de elementos e reflexões de vários campos do conhecimento.

Código e Plasticidade - Maria Cruz: o código como elemento fundamental na arte, quer como objecto de criação (artistas enquanto programadores, gerando código) quer como elemento que permite a visualização/interacção dos e com os produtos digitais. Envolve-se com o conceito de plasticidade - vindo de Hegel, forma de exteriorização de interioridade.

Design e Interfaces - Cristina Sá: foca o webdesign como forma de construção de informação. Mais do que arranjo estético de página, reflecte a estrutura da informação, o seu arranjo estético, conteúdos e interface que permite ver/interagir. Utilizador apenas toma contacto com interface, ficando todo o trabalho de estruturação invisível aos olhos do utilizador. Traça as linhas de evolução do webdesign, desde as páginas de texto simples até à inclusão do multimédia, numa óptica que vai do site enquanto elemento estático até aos conceitos de sites dinâmicos que se alteram conforme os perfis de utilizador. Observa as dinâmicas do webdesign no domínio .pt, situadas em dois eixos - um mais formalista, ligado a instituições, outro mais pessoal, criativo, experimentalista e efémero.

Instituições Artísticas Portuguesas e Internet - Victor Flores: foca o investimento das principais instituições artísticas na criação, desenvolvimento e mostra/arquivo de obras de arte digital. Colecções de videoarte em Serralves e Gulbenkian, colecções e iniciativas extintas (IAC e Cyber-Festival, colaboração entre o Centro Cultural de Belém e Portugal Telecom), Projeto Atlântico de Arte Digital, workshops no âmbito da Bienal de Cerveira, programas do Instituto das Artes, investimento de escolas de arte, design e multimédia.

Arte e Rede - Fernando Pereira: foca a arte em rede enquanto forma isolada dentro do âmbito da arte contemporânea mas aberta ao exterior, assentando na hipertextualidade e na interactividade como ferramentas e objectivos centrais do seu desenvolvimento.

Ensaios

After Effects: uma revolução de veludo - Lev Manovich. Os primeiros sistemas de criação e manipulação do multimédia eram caros, limitados e difíceis de utilizar, permitindo resultados pouco dinâmicos. O desenvolvimento do After Effects e similares - do seu conceito de manipulação de elementos digitais, bem como a digitalização de imagem fixa, imagem video, texto e código gerador de efeitos veio revolucionar a criação multimédia. Desenvolvimento de estéticas de remistura, perda de autonomia dos objectos estéticos, agora elementos compositivos de um resultado final que se desenvolve no tempo e no espaço. Remistura não só de elementos mas também de filosofias estéticas. Capacidade criativa dos autores, aliada às filosofias de interface que tratam cada elemento (imagem, texto, som, vídeo) como objectos intercambiáveis geraram novas estéticas que são mais do que soma das suas partes integrantes.

Arte e Comunicação: uma aproximação teórica da Media Art - José Pinto. Os media como elementos de descrição da sua época. A escrita como principal elemento de descrição de realidades, posto em causa pelo desenvolvimento de meios tecnológicos de comunicação. Foca McLuhan ao tentar mostrar que "os meios determinam o acesso à realidade" (p:75). Integração de meios tecnológicos na expressão artística ultrapassa campos definidos, levando conceitos de comunicação a estebelecer-se como cânones artísticos.

Cultura, Media e Espaço: a instalação da Experiência e das artes - Maria Cruz. A noção do espaço enquanto constante na experiência humana, também presente nos novos media tecnológicos. Relação entre espaços e medias criados para a sua representação e intrepretação. As novas tecnologias como fusão entre espaços reais e artificiais. Arte, tecnologia e espaços, na sua criação, interpretação e apresentação.

Análise Empírica: estudos sobre a representatividade e caracterização da arte digital em portugal. Fernando Pereira traça as linhas de investigação em Objectivos e Metodologia da Análise Empírica: Dados Gerais da Situação em Portugal. Cristina Sá investiga as características dos projectos portugueses na rede em Interactividade e Webdesign em Portugal. Margarida Carvalho analisa projectos artísticos em Práticas de Net.Art em Portugale Victor Flores analisa a presença dos museus portugueses na internet no artigo A Utilização da Internet pelas Instituições Artísticas Portuguesas.