Curiosamente andei anos a fugir aos computadores. O meu primeiro contacto com a máquina que transformou o mundo aconteceu no liceu, quando experimentava jogar Doom em pcs 286 monocromáticos ao fim das noitadas no bairro alto em casa de alguns amigos com pais de carteira mais abonada. Interessante, mas não determinante. Na altura havia uma certa desconfiança em relação à tecnologia. Como era da área de artes, era adepto ferrenho do “fazer à mão”. Não havia na altura a acessibilidade, a disponibilidade, a quantidade de ferramentas e interfaces amigos do utilizador que hoje temos, e a isso junte-se uma certa dose de medo da tecnologia, de medo que o artificial se sobreponha ao real. Por isso, enquanto alguns amigos começaram a experimentar grafismos digitais, com ferramentas rudimentares pelos padrões de hoje, mantive-me fiel à tinta da china. Terá sido boa ideia? Hoje, alguns desses amigos são designers e animadores 3D. Eu sou professor...
A necessidade de utilizar o computador como ferramenta de trabalho surgiu no ensino superior, na ESE de Santarém. Aí, por influência de um colega de turma, comecei a frequentar a sala de computadores, e ao fim de um ano adquiri o meu primeiro computador. Quando percebi o potencial que havia na máquina, fiquei fascinado e comecei a experimentar. Com uma cópia pirateada do photoshop 2.0 em seis ou oito diskettes descobri o potencial gráfico das máquinas, e percebi que não havia artificialismo no que era produzido utilizando o pc, antes novas possibilidades estéticas e expressivas. Não uma extensão do trabalho com técnicas tradicionais, mas sim algo de novo, com ritmos próprios.
Depois seguiu-se a wired, a ficção científica cyberpunk, e agora... já não concebo a realidade sem ser aumentada pelo cibermundo.