Terminei o dia com uma inexprimível sensação de paranóia. A manhã começou tranquila com a primeira turma a trabalhar geometria e cor. Como já aprenderam a geometria elementar no ano anterior, estou a trabalhar aquilo que chamo de "geometria divertida" (um paradoxo, eu sei, tal como qualquer outro sobrevivente de geometria descritiva sabe). É um retrocesso programático - repescam-se variações estilísticas das construções geométricas muito em voga nos anos 50, 60 ou mesmo 20 e 30... do século passado. E funciona. Retira-se o estigma matemático da geometria com exercícios que obrigam os alunos a utilizar o que sabem para construir figuras decorativas rigorosas com aplicação imediata de cor. A segunda turma, daquelas que só se atura com muito bom humor e doses massivas de café, também aderiu bem a este trabalho. Manhã totalmente não digital, com interrupções para criar tutoriais de geometria no Corel Draw.
Seguiu-se o clube digital, que trabalha na sala TIC, que por vezes está tão caótica que quase tenho medo de lá entrar. Mas graças ao esforço da professora de tic, estava em excelentes condições, tirando os dois pcs com a fonte de alimentação estoirada e irreparável porque já não existem no mercado, os cabos de rede em falta e os ratos em vias de extinção. E os discos apinhados de bytes. Mesmo assim consegui com os alunos instalar o VideoSpin em quase todos os pcs da sala. Nota mental: aproveitar o carnaval ou a páscoa para uma limpeza profunda à sala TIC. Reformatar a coisa seria um bom princípio, mas se a coisa correr mal pode ir tudo ao ar. Vou optar pela eliminação de contas de utilizador, até porque a maior parte delas já data de há três ou quatro anos atrás. Isto numa estimativa conservadora. Não me surpreenderá encontrar documentos datados dos anos 90.
A tutoria prometia ser complicada. Esqueci-me da minha fiel pendrive algures numa sala também utilizada por alunos dos CEFs, ou seja, caso perdido. Nem vale a pena chatear-me. Nada de dados confidenciais perdidos, só a chatice de ter de voltar a coligir toda a gama de aplicações que instalo regularmente nos portáteis. O único dano está nos trabalhos do aluno de tutoria... só não se perderam os que estão dispersos por vários portáteis. E pior: perderam-se os savegames do jogo favorito do rapaz, que andava entretido a construir montanhas russas. Coisa chata, daquelas de ficar possesso. Eu ficaria. Mas ao contrário das expectativas, o aluno reagiu com um estóico pronto, agora vou ter de repetir os trabalhos. Nada mau para uma criança conhecida por ter acessos de extrema violência quando as coisas não lhe correm bem.
Sem necessidade de actualizar o site. Bem, há uns projectos ainda em beta relacionados com o e-escolas/magalhães que havia de afinar, mas estava sem paciência. Ainda estão em beta. Para inventar trabalho, andei às voltas com códigos de shoutbox para o site da associação de pais da EB 23. Não foi uma ideia brilhante, concluí depois de descobrir que o Google Sites recusa códigos html/java externos. Adoro meter-me em buracos... mas há de haver solução.
Por isto terminei o dia com uma sensação de paranóia. Não houve avarias. Dei aulas tranquilamente. Os SOS digitais resumiram-se a dicas simples sobre o Windows XP. A máquina de café deu-me sempre troco. O aluno de tutoria estava calmo, simpático e conversador. Não houve avarias. Sem stress. Um dia de trabalho demasiado... normal. Que estranho.