terça-feira, 27 de maio de 2008

Tecnologia Humana



Lewis Mumford (2001). Arte e Técnica. Lisboa: Edições 70

Este é um texto já clássico, mas nem por isso desactualizado. Nos seis ensaios que constituem a obra Arte e Técnica, Lewis Mumford analisa o impacto da tecnologia sobre o sentido de ser humano. Coerente com a época onde viveu, Mumford analisa os impactos da tecnologia mecânica, dos processos industriais e do mecanicismo sobre a humanidade. A sua mensagem é clara: o progresso técnico modifica-nos, interfere com o nosso ser, altera não só a nossa realidade como a nossa percepção da realidade. O perigo do mecanicismo está no soterrar da alma humana debaixo do processo, da lógica e do mecanismo. Levanta-se o espectro dos pesadelos do homem enquanto peça de um imenso mecanismo social, reduzido ao papel de elemento na engrenagem.

Esta imagem faz pensar no filme Metropolis de Fritz Lang, com as suas imagens de homens totalmente subjugados à máquina, particularmente na imagem do homem cuja função, exasutiva, é a de mover os ponteiros de um imenso relógio. Um castigo de Sísifo da era industrial.

Apesar do seu repetido aviso sobre o perigo de desumanização perante o fascinio da tecnologia, Mumford não defende o regresso a uma mítica era pré-tecnológica de pureza humana. Tal já não é possível, tal nunca existiu, dependemos da nossa tecnologia. Importante é humanizar, não perder o sentido humano no meio dos mecanismos.

Décadas após a sua publicação, as ideias de Arte e Técnica continuam pertinentes. A sociedade industrial, mecanicista, evoluiu para o nosso corrente mundo pós-industrial e globalizado. O fascínio do digital substituiu o fascínio do mecanismo pelo fascínio do sistema. O perigo mantém-se. Poderemos mediar a nossa visão do mundo pela tecnologia sem que o processo se perca o que nos define como humanos?