quarta-feira, 26 de março de 2008
Ideias Impossíveis
John Brockman (ed.). (2008). Grandes Ideias Impossíveis de Provar. Lisboa: Tinta da China
Edge
John Brockman é conhecido pelo seu papel na formação de uma ponte entre o pensamento científico e o pensamento filosófico-sociológico, defendendo aquilo a que chama de uma terceira cultura, num reconhecimento das capacidades especulativas daqueles a que estamos mais habituados a ver como representantes do rigor e exactidão. A ideia de uma terceira cultura não é novidade, mas Brockman tem feito dela o seu cavalo de batalha, investindo fortemente na edição de livros que assentem sobre a ponte entre rigor científico e discurso filosófico, bem representado na web pelo site de leitura obrigatória que é o Edge.
Grandes Ideias Impossíveis de Provar parte da questão anual da Edge, uma questão que Brockman coloca à sua entourage de cientistas, escritores, filósofos, sociólogos e investigadores. São, normalmente, questões provocatórias, e esta, para uma visão mais tradicional de ciência, é quase impensável: pedir a cientistas que explicitem ideias em que acreditam, instintivamente, mas que não conseguem provar através das ferramentas do método científico. O resultado é uma visão espectográfica sobre a intuição do conhecimento humano, ideias improváveis, mas com uma lógica própria.
Entre os contribuintes para este livro encontramos Martin Rees (especulando sobre a existência de vida alienígena inteligente), Richard Dawkins (evolução versus criacionismo, what else?), Ray Kurzweil (domar a velocidade da luz), Michael Shermer (compreender a realidade com base na lógica e não na superstição), Bruce Sterling (caos climático), Clifford Pickover (modularidade mental), Alan Kay (o impacto do mundo digital tem implicações ao nível da estrutura mental), Esther Dyson (razões psicológicas de sentir que cada vez temos menos tempo), ou Mihalyi Csikszentmihalyi (a impossibilidade de provar o que se acredita).
Estas são umas das muitas ideias que preenchem este indecente Grandes Ideias Impossíveis de Provar. Indecente porque parte de um contra-senso, o do que devemos dar importância às ideias que nos saem da intuição. E a intuição, se não for provada e comprovada pelos métodos rigorosos da ciência, é algo a que não damos muito valor.