As teorias de desenvolvimento cognitivo de Lev Vygostsky, contemporâneo esquecido de Piaget, formaram-se num momento crucial da história da educação - no dealbar do século XX, quando toda a sociedade que gerou a moderna sociedade de informação estava a construir-se, em que os campos de conhecimento mais clássicos estavam a ser profundamente revolucionados pelas novas descobertas da pesquisa cientifica.
Subjacente às teorias de Vygotsky (e de Piaget, entre outros) está a transição de um conceito de aprendizagem factual - em que o saber se constitui através do conhecimento e memorização de factos, para um conceito de aprendizagem actuante, em que há uma dicotomia entre saber/saber fazer, em que o conhecimento, e a sua construção, se revela através da acção.
Cultura e ambiente vão interferir (num sentido positivo) e modelar os processos de aprendizagem e desenvolvimento. O colocar à criança de desafios que estão um pouco para lá do que é capaz de fazer de acordo com o seu estádio de desenvolvimento, mas a que a criança vai conseguir responder através da interacção e imitação dos seus pares ou professores reforçam, a meu ver, as bases sociais da aprendizagem. Alguns autores chegam a ver em Vygostky elementos de materialismo dialéctico; é uma afirmação que não surpreende - tal como postula nas suas teorias, Vygotsky foi homem do seu tempo, a era pós outubro de 1917, em que os mais variados idealistas tentavam construir uma nova sociedade, uma nova ideia de mundo. Note-se que enquanto Vygotsky teorizava a zona de desenvolvimento potencial, os construtivistas russos desafiavam a percepção da arte, levando-a para campos verdadeiramente inovadores que ainda hoje, tal como a teoria de Vygotsky, nos parecem revolucionários.