segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Heechee Rendez-Vous



Frederick Pohl, Encontro com os Heechee, Livros do Brasil, 1989

Wikipedia | Frederick Pohl

Grande mestre da Ficção Científica, Frederick Pohl foi autor de uma vasta obra de onde se destacam Man Plus (1975), uma história de mutação científicamente manipulada que transforma um homem numa criatura capaz de viver no ambiente marciano - e acaba por transformar mais do que físicamente, e Gateway (1976), singular space opera que explora a descoberta e exploração de um artefacto alienígena no sistema solar.

Gateway deu início à série dos Heechee, uma space opera sobre o encontro entre a humanidade e uma espécie alienígena tecnológicamente mais avançada. Em Gateway, os Heechee nunca são revelados, apenas os seus intrigantes artefactos e naves contidos no asteróide artificial que dá o nome à obra. Neste Encontro com os Heechee, terceiro livro da saga e publicado em 1985, seguimos as aventuras de Robinette Broadhead, personagem que é fio condutor da saga, milionário envelhecido num planeta que dá os primeiros passos na colonização espacial graças ao uso da tecnologia Heechee. Apesar de estar a avançar em direcção ao futuro, o planeta está em risco de se desagregar socialmente. Os poderes governamentais das grandes nações que se guerreiam diplomáticamente estão a perder o controlo aos acontecimentos. Os militarismos estão a ressurgir, e na superfície vivem-se dias inseguros, com ataques terroristas e progressivas ameaças de guerra global.

É, sem dúvida, um contexto global futurista inspirado nos anos 80, quando se viviam aquilo que a queda do muro de Berlim viria a revelar como os anos finais da guerra fria.

Entretanto, a exploração do espaço utilizando as naves heechee e naves terrestres com tecnologia adaptada estão a causar ondas no espaço, com os Heechee a temerem a perturbação de um local muito especial, um buraco negro onde está confinada uma raça alienígena conhecida simplesmente como os Assassinos, que os Heechee tanto temem que se encerraram a si próprios num buraco negro para se protegerem da aniquilação que viria a a acontecer caso fossem descobertos por esta agressiva raça de seres que estão a manipular o espaço-tempo para criar um novo big bang, gerando um novo universo com leis da física que lhes são mais agradáveis.

(is this cosmic enough for you?)

Outras personagens gravitam nesta história em que os Heechee acabam por se revelar à humanidade. Infelizmente, a única verdadeiramente interessante é a de Albert, um programa de inteligência artificial que se aproxima da sentiência e que funciona como o narrador omnisciente da obra.

Encontro com os Heechee é uma obra desconcertante. Por um lado, falha em despertar o interesse, e é um daqueles livros de FC que está a envelhecer mal e parece estar destinado a ser lido futuramente apenas pelos fãs mais ferrenhos ou por aqueles que buscam aprofundar os seus conhecimentos sobre a FC. Por outro lado, não deixa de ter as suas pérolas - a geopolítica global dos anos 80 transportada para um futuro próximo, os impactos que o domínio de tecnologias alienígenas efectou sobre as sociedades humanas (e aqui, comparação óbvia, vem-me à mente a história dos portugueses a introduzirem as armas de fogo no Japão, facto que influenciou o futuro do país, não de forma decisiva, mas modelando a sociedade de uma outra forma), a concepção de inteligências artificiais que se aproximam da sentiência, um sentido de imortalidade virtual com os padrões cerebrais dos individuos a serem armazenados em tecnologia heechee, criando uma verdadeira consciência global virtual, e uma das mais estranhas raças alienígenas jamais criadas (não, não são os Heechee, que me pareceram bastante banais pelos padrões fantasiosos do imaginário de espécies alienígenas) - um povo-lula, capaz de viajar pelo espaço, que tem uma concepção de tempo um pouco lenta para os padrões habituais.

Encontro com os Heechee foi um livro que não me fascinou. Na minha pilha de livros empoleirados sobre a mesa de cabeceira aguarda leitura o último livro da saga. Talvez me faça mudar de ideias. Ou, talvez, esta frieza perante a obra advenha da tradução - a lendária colecção Argonauta ficou conhecida pela sua abrangência e duração temporal (durante décadas, assegurou uma publicação contínua de obras de FC em portugal), mas não pela qualidade das suas traduções.volume da saga Heechee